Refletindo sobre desenvolvimento na região Norte Fluminense
A possível transferência do controle
acionário do Porto do Açu da LLX para a empresa americana EIG, já que algumas
questões como as dívidas de curto prazo precisam ser sanadas, revigorou as
expectativas otimistas e os discursos, com uma certa dose de exageros, tomaram
conta dos noticiários. Quero voltar a discussão sobre a tese de que o
desenvolvimento da região Norte Fluminense não ocorrerá em função dos vultosos
investimentos exógenos de caráter nacional, cuja base está ancorada no uso de
recursos naturas.
Para um melhor entendimento dessa questão é
necessário isolar a ideia da correlação entre volume de riqueza e desenvolvimento.
Os grandes investimentos geram realmente um grande volume de riqueza mas não
garantem benefícios à comunidade do entorno. Exemplo de enclaves estão por toda
parte do Brasil (formação de riqueza localizada com forte exclusão). Aliás, a
mesma região convive com a atividade petrolífera, substancial geradora de
riqueza, a pelo menos três décadas, sem ter internalizado benefícios
correspondentes ao conceito de desenvolvimento socioeconômico. Macaé como
município sede da estrutura petrolífera convive com mazelas importantes do subdesenvolvimento
(ausência de infraestrutura social, violência, pobreza, exclusão social).Claramente
verifica-se um quadro de geração de riqueza concentrada que segue o fluxo
periferia centro, onde o território que dá origem é sugado até a exaustão, sem a
garantia de participação efetiva.
Uma explicação importante para tal fato está
na incompatibilidade entre o grau de conhecimento inerente as atividades especializadas que
chegam e as atividades tradicionais desenvolvidas no território. Atividades no
ramo de petróleo, construção civil pesada, construção naval, logística
portuária, dentre outras, exigem mão de obra muito especializada, cuja formação
de base é de qualidade, além de requerer muito anos de estudo. Evidente que
regiões fragilizadas estão bem distante desse padrão.
Neste caso, o processo de desenvolvimento se
aproxima muito mais da necessidade de investimentos menos volumosos, porém
baseados nos recursos territoriais, os quais mantêm forte relação com as
habilidades e conhecimentos internalizados. Neste caso, os investimentos são
endógenos e precisam ser ancorados no planejamento, na coordenação
institucional e no conhecimento formal integrado ao conhecimento prático.
Este novo arranjo, entretanto, exige uma boa
capacidade de interação entre os atores e agentes sociais, condição negada em
diversas pesquisas. De fato, a região apresenta um grande gargalo nessa
questão, o que tem inibido um maior avanço socioeconômico. A solução desse
problema é essencial para a evolução regional ao padrão de desenvolvimento
esperado.
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