A solução da crise no Rio de Janeiro é federativa?
Gostaria de ter participado das discussões
finais sobre a crise do estado do Rio de Janeiro na palestra do economista da
UERJ Bruno Sobral, nesta quinta-feira, no Centro de Convenções da UENF, porém devido
a outros compromissos tive que me ausentar. Assisti com atenção o palestrante e
por mais que concorde com alguns pontos, tenho que dizer que a sua visão é
utópica, além de contraditória. O economista trata o estado do Rio como vítima
de uma crise econômica federativa. Indica que o governo Federal,
constitucionalmente, oprime o estado, provocando queda de receitas
orçamentárias, acentuando a presente crise financeira. Afirma que, por mais que
o estado corte despesas não consegue alcançar o equilíbrio fiscal, já que a
crise não é formada no estado.
Algumas justificativas a essa tese, como a
dificuldade de receber dívidas tributárias de entes federais, a tributação do
ICMS da atividade petrolífera no destino e não na origem, os reflexos da lei
Kandir (isenção de ICMS nos produtos e serviços para o exterior), se constituem
na base da argumentação do economista que, na crítica a pactuação para o
equilíbrio fiscal do estado com o governo federal, propõe a federalização da
dívida do estado. Naturalmente uma utopia, já que nesse caso todos os estados
deveriam ter o mesmo tratamento. Os estados são autônomos com os seus
orçamentos e capacidade de gestão dos mesmos recursos.
A contradição da explanação se acentua quando
ele reconhece a perda relativa de participação econômica do estado em relação
ao país nas últimas décadas, em função da ausência de cadeias produtivas
estruturadas, as quais deprime as receitas orçamentárias. Nesse caso o governo
não tem nenhum papel no processo de indução a modernização industrial, a
inovação e ao desenvolvimento econômico?
Na resistente defesa aos governos do estado do
estado do Rio de Janeiro, o economista afirma que o problema da crise do estado
não está na corrupção. Segundo o coordenador da Laja Jato, dos cofres da
Petrobrás saem R$6,2 bilhões ano fruto da corrupção. Ainda, a Petrobras perdeu
25% da sua capacidade de investimento, ou menos US$3,0 bilhões em 2017
motivados por corrupção. O economista despreza essa grave situação.
O mesmo ainda afirma que a renúncia fiscal
concedida pelo estado também não é problema, aliás insiste que a sua suspenção
piora a situação do estado pois pode ocorrer fuga de investimento. Realmente a
renúncia fiscal pode ser importante quando seguida de critérios rígidos e
comprovação efetiva da sua viabilidade econômica. Parece que não é bem o caso.
Pelo menos com a prisão do ex governador Sergio Cabral, muitas renuncias de
tributos com objetivo de enriquecimento pessoal ficaram comprovadas. As
desonerações fiscais declaradas, segundo a SEFAZ-RJ, atingiram R$181 bilhões em
termos nominais, no período de 2010 a 2016.
Em relação a queda de receita, segundo o
economista imposta pelo Governo Federal, realmente ocorreu uma redução nominal de
R$ 6,3 bilhões em 2015 e outra queda nominal de R$5,2 bilhões em 2016. Contraditoriamente,
nesse momento de queda de receita, o estado concedeu R$36,0 bilhões de
desoneração tributária em 2015 e R$32,0 bilhões em 2016.
Uma outra observação que deixa claro a
ineficiência da execução orçamentária é a não observação a perda de
produtividade da Bacia petrolífera de Campos a partir de 2009. Neste ano
atingiu o pico de produção de 85% da produção nacional, declinando lentamente
até alcançar 67% em 2016, segundo a ANP. Na contramão dessa situação a relação
despesas correntes / receitas correntes evoluiu de 90,87% em 2010 para 103,45%
em 2014 e 112,18% em 2016. O crescimento
não ocorreu na conta de pessoal e encargos que saiu de 25,05% em 2010 para
31,49% em 2014 e 43,10% em 2016, portanto dentro dos padrões da Lei de
Responsabilidade Fiscal. A pressão ficou por conta do custeio (outras despesas
correntes) com 61,39% em 2010 subindo para 66,36% em 2014, ano anterior à
crise.
Finalmente é preciso uma explicação efetiva
para o artificio contábil usado pelo governo do estado no primeiro semestre
deste ano. Sem novos concursos e sem concessão de qualquer aumento salarial,
dobrou o valor da folha de pessoal e encargos no período. A relação da conta de
pessoal e encargos cresceu de 43,10% em 2016 para 73,78% no primeiro semestre
de 2017. O estado já liquidou nesse semestre, relativo a pessoal e encargos, o
equivalente a R$19,9 bilhões, valor superior as R$19,1 bilhões liquidados no
ano inteiro de 2016. O economista também não explicou essa aberração.
Claramente, os últimos governos do PMDB aprofundaram a dívida pública do
estado, abusaram das desonerações fiscais, se envolveram em um robusto processo
de corrupção e aprofundaram o desequilíbrio fiscal.
Parabéns pela análise e opinião.
ResponderExcluirObrigado, abraços!
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