Contribuições para o debate da gestão fiscal em Campos dos Goytacazes

 

O discurso de lideranças politicas sobre eficiência na gestão fiscal em Campos dos Goytacazes, precisa de revisões importantes. Primeiro, creditar a queda da dependência orçamentária às rendas petrolíferas a tal eficiência é desconhecer a trajetória operacional da bacia de campos, classificada no momento como uma bacia madura.

Realmente a dependência orçamentária vem diminuindo no tempo por conta da queda da produção e produtividade da mesma bacia. A figura a seguir mostra as taxas de dependência no período de 2006 a 2023. Em 2006 as rendas petrolíferas representeavam 65,76% das receitas orçamentárias, dependência esta declinante em função da perda de produção e produtividade da bacia. Em 2019 a participação destas rendas no município atingiu o seu menor nível de 25,33%, avançando levemente para 27,16% em 2023.

Outra informação importante é de que em 2010, pico da produção de petróleo da bacia de campos, as participações especiais distribuídas para o município atingiram 99,40% dos royalties de petróleo (em termos nominais, o valor de royalties somou R$482,0 milhões e o valor das participações especiais somou R$479,2 milhões). Em 2023 esta mesma participação especial representou somente 15,81% do total de royalties recebido.


    Fonte: ANP

Uma análise completar sobre as receitas tributárias (receitas próprias), ajuda a entender melhor o padrão de eficiência da gestão fiscal em Campos. O discurso indica que o crescimento das receitas tributárias (próprias) é o responsável pela queda da dependência orçamentária as rendas de petróleo, o que é totalmente inconsistente. A tabela a seguir apresenta a estrutura das receitas tributárias.


Veja que em 2023, as receita tributárias responderam por 16,11% das receitas correntes, taxa bem diferente da divulgado pelos gestores. Desta composição a única rubrica que representa riqueza agregada à economia é o imposto sobre serviço (ISS), que representa a tributação sobre serviços prestados por organizações. Por natureza, o imposto predial e territorial urbano (IPTU) representa uma subtração de renda das famílias, já que incide sobre prédios já construídos. O imposto sobre transmissão de bens imóveis (ITBI) idem, assim como outros impostos e taxas.

Outro imposto muito expressivo, quase do tamanho do ISS é o imposto de renda e proventos de qualquer natureza (IRPQN), que também não é fruto de riqueza agregada. Trata-se de retenção das rendas e proventos pagos pelo governo que ampliam as receitas próprias. Veja o exemplo do montante de RPA, objeto de forte questionamento, pago pelo governo. Uma parcela da retenção de IR tem origem neste gasto. Veja que por natureza não apresenta características de riqueza agregada na economia, não é fruto de dinâmica econômica.  

Conclusivamente, mesmo com a menor participação relativa das rendas petrolíferas, as transferências constitucionais continuam muito representativas no nível de 73,58% das receitas correntes em 2023, o que comprova a frágil estrutura de receitas próprias e baixa dinâmica econômica do município.

 

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