O modelo de desenvolvimento da Itália em São João da Barra. É possível?

Persistência e paciência são elementos essenciais em qualquer processo de mudança que tenha objetivos de interromper praticas de natureza arcaica e instalar novos aspectos de modernidade. Acreditamos nesta hipótese e estamos tendo a satisfação de presenciar algumas iniciativas em São João da Barra que corroboram com esta tese. Primeiro o interesse do executivo local pela atividade de piscicultura, mudando a denominação da secretaria de pesca e iniciando um projeto de cultivo de tilápia, entendendo assim as dificuldades inerentes a pesca de captura indicado por nós. Segundo, a divulgação da viagem de uma comitiva ao norte da Itália para conhecer a organização produtiva dos Distritos Industriais, o que confirma a consolidação das discussões por nós encaminhadas ao longo dos últimos sete anos. Na verdade em 2002, defendi em minha tese de doutorado na UENF a proposta de capacitação do ambiente sócio-cultural como base para o desenvolvimento local. A estratégia de capacitação foi construída baseada na interação entre instituições e organizações no contexto do território, espaço sócio-produtivo que evolui competitivamente sob garantias de um tecido social ajustado. São relações norteadas por civismo, lealdade, cooperação e reciprocidade que constitui o que podemos chamar de capital social. Esses elementos norteiam toda a dinâmica do sistema produtivo dos distritos industriais da Itália.
Com esses conhecimentos iniciamos um esforço no mesmo município, ainda em 2002 na Casa de Cultura Zenriques, onde envolvemos a UENF, governo local e organizações como Sindicato Rural e Associação Comercial, para discutir novas formas de organização produtiva e desenvolvimento local. Posteriormente iniciamos o Projeto Capacitar para Transformar Sistemas de Produção Local e o projeto de piscicultura, onde a Petrobras foi o parceiro que financiou as instalações físicas no balneário em Atafona. Toda orientação do projeto tem como base os conceitos próprios dos Distritos Industriais do norte da Itália, cuja terminologia tem origem nas verificações empíricas de Marshall em 1890 na Inglaterra, e em sua massificação na década de 1970, no centro norte da Itália, em função do sucesso das aglomerações produtivas compostas de pequenas empresas em territórios esparsos.
Quanto a evolução do mesmo projeto no município é outra discussão. O fato de não termos conseguido manter o apoio público trouxe dificuldades e atraso ao bom desempenho do projeto no quesito material. Porém os resultados intangíveis são identificados, seja na geração de conhecimento em função das publicações científicas nos diversos congressos pelo país, e no contexto da mudança comportamental ora identificada.
De qualquer forma, é importante ratificar que é improvável a importação dos modelos dos distritos industriais para regiões que não apresentam as condições sócioculturais do norte da Itália. Uma extensa Pesquisa do Americano Robert Putnam investigou o processo de desregulamentação política da Itália e verificou que enquanto o norte evoluiu, o sul declinou exatamente pelas diferenças culturais. No sul a fragilidade institucional baseada no desrespeito a ordem e as leis, não contribuíram para o desenvolvimento, o que só ocorreu no norte por questões reais relacionadas a sua própria história.

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