Uma leitura da crise econômica internacional

A crise econômica internacional pode ser entendida à luz da relação conflitante entre as receitas e as despesas orçamentárias. Talvez possamos dizer que a orientação Keynesiana não foi bem entendida, quando o próprio Keynes indicou a demanda efetiva como elemento importante do crescimento econômico e do combate ao desemprego. Responsável pela coordenação do processo, os Governos trataram de ampliar os seus tentáculos e passaram a ocupar espaços cada vez mais representativos na sociedade. Conseqüentemente, a manutenção do “status quo” passou a exigir a ampliação dos benefícios e um maior comprometimento das receitas que deveriam ser aumentadas continuamente, em detrimento da economia real cada vez mais pressionada tributariamente.

O quadro corrente reflete, especialmente na Europa, um forte endividamento público, incapacidade da estrutura produtiva em gerar rendimentos crescentes, desemprego e aprofundamento da pobreza. Nos Estados Unidos, a situação se apresenta um pouco diferente já que o país distribui com o planeta as suas irresponsabilidades de gestão pública, já que é referência financeira, militar e tecnológica para o mundo. Mesmo assim, a crise de liquidez é grave e junto com a crise conjuntural e estrutural da Europa, levará ao mundo uma forte retração econômica.

O Brasil, apesar de apresentar algumas condições bastante razoáveis, tais como: amplo mercado interno consumidor, representativo volume de reservas em dólar, controle inflacionário, além de um dinâmico setor de agronegócios, depende de investimentos internacionais, cujas economias estão em franco processo de retração econômica. A economia interna já vem sentindo o desajuste externo, especialmente pela forte concentração das exportações em commodities, cujos preços já estão em declínio. Na outra ponta, os investimentos diretos sofrerão retração.

No contexto do país, a região norte fluminense se destacou em relação à absorção de investimentos. A indústria petrolífera em Macaé nos últimos 35 anos atraiu um número consistente de empresas nacionais e internacionais, com volumes vultosos de investimentos, os quais avançam em direção ao pré-sal. O município São João da Barra recebeu o complexo portuário do Açu, cujos investimentos, na fase de construção desde 2007, já chegaram ao valor de R$1,8 bilhão. Complementarmente, os projetos portuários em Quissamã / Barra do Furado e Presidente Kennedy no Espírito Santo estão em planejamento. Este dinâmico quadro não se compatibiliza com o mundo em crise, já que especialmente o porto do Açu, se constitui de protocolos de intenção assinados por empresas estrangeiras que dependem de forte saúde financeira para materializar os investimentos produtivos. Com a crise externa, Estados Unidos com sérios problemas de liquidez, Europa com a estrutura econômica abalada e uma conjuntura falida e o Japão em recuperação de sérios problemas de ordem natural, a expectativa é de que os investimentos na região norte fluminense sejam postergados, gerando dificuldades para o principal empreendedor, o grupo X. A natureza desse investimento, baseado em infraestrutura, exige fortes investimentos captados no exterior e/ou no mercado acionário, fontes que apresentam muitas dificuldades no momento. As bolsas estão em queda livre e os recursos internacionais estão indo em direção as aplicações sem risco como ouro. O patrimônio do investidor vai diminuir, já que a fase operacional ficará mais distante e, portanto, um período maior sem receitas, enquanto os custos e despesas continuarão nesse contexto de incerteza.


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