Porto do Açu: um projeto para o país que não inclui o local de instalação
Contrariando importantes conceitos econômicos, os
robustos investimentos privados em infraestrutura portuária e os gastos
públicos, fomentados por transferências de royalties de petróleo, não estão
possibilitando uma evolução na melhoria de vida da população em São João da Barra,
município sede do porto do Açu. Em cinco anos foram gastos R$ 2,6 bilhões nas
obras de construção desse super projeto, além de R$ 1,0 bilhão em receitas
orçamentárias gastas pelo governo, cujos impactos econômicos são totalmente
incompatíveis em termos de benefícios incorporados pela sociedade local.
Uma primeira análise que contraria a ciência
econômica, diz respeito às externalidades geradas em função dos investimentos
exógenos. Neste caso, são evidenciadas as externalidades negativas, tais como:
especulação imobiliária, aumento do tráfego de veículos pesados, maior demanda
por serviços públicos, interferência na cultura local, transformação da
paisagem, forte inserção sobre recursos naturais (rio, mar, lagoas, vegetação,
etc.), interferência nas atividades de pesca artesanal e agricultura. As
externalidades positivas estão sendo absorvidos por empresas e trabalhadores externos
mais competitivos.
A presente constatação tem origem na ausência de
um planejamento eficaz para o município, que convive com a fragilização de
áreas importantes como: saúde, educação, turismo, agricultura, pesca, comércio
e a própria gestão publica, cuja ausência de quadros técnicos no governo é uma
realidade.
Elucidando alguns desses pontos, a educação fundamental
amarga o penúltimo lugar no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB)
no estado do Rio de Janeiro, segundo a avaliação do MEC. Com notas 3,3 para a
4ª série e 3,6 para 8ª série em 2009, o município se distancia muito de alguns
de seus vizinhos da região Noroeste Fluminense, sem petróleo e porto. A geração
de emprego está concentrada no projeto portuário. Nos últimos cinco anos foram
gerados 3.226 empregos, sendo 2.972 ou 92,13% relacionados à atividade de
construção civil com características de sazonalidade, já que evolui na etapa de
construção e declina, fortemente, na fase posterior de operação. Por outro
lado, o trabalhador local não consegue ocupar cargos mais qualificados, os
quais são absorvidos por profissionais de outros estados com uma maior
experiência, os quais transferem parte da renda para sua região de origem.
Como o sistema econômico local não foi preparado
para a presente transformação, não consegue atender minimamente as demandas de
mão-de-obra, serviços e insumos. Internamente, a agricultura e a pesca, também
sem nenhum planejamento, vêm perdendo produtividade e renda com reflexos na
atividade comercial. Mesmo com os gastos já indicados, o comércio gerou somente
174 empregos em cinco anos, apresentando neste semestre de 2012 um resultado
negativo de destruição de 26 vagas de trabalho. Observa-se que os gastos
públicos nesse mesmo período, na função de turismo, somaram R$ 58,0 milhões, o
que ratifica a incompatibilidade entre uso de recurso e benefício alcançado.
O município apresenta uma coleção de outros indicadores
econômicos ruins, como baixo nível de investimento, em média 5% das receitas
orçamentárias e, conseqüentemente, uma ineficiente gestão orçamentária, já que
aplica em torno de 95% de suas receitas em custeio; concentração da agricultura
no cultivo da cana-de-açúcar de baixa produtividade; queda do índice de participação
municipal no ICMS (0,447 em 2012 e 0,483 em 2011) e forte dependência orçamentária em torno de
80% das rendas finitas de petróleo.
Esses indicadores são importantes e mostram que
grandes volumes de recursos financeiros podem não ser suficientes para gerar
desenvolvimento econômico em determinado território. Fundamentalmente, é
essencial usar o conhecimento estruturado em perfeita consonância com as
praticas locais, respeitando o povo, a cultrura a sua história, além de boas
praticas democráticas. Acredito que
esses elementos não estão bem presentes nesse novo momento de mudanças em São João da Barra.
Pois é Alcimar, o Sr. que recentemente esteve na Europa e pode ver de perto que um povo com cultura preservada faz uma sociedade mais participativa e em momentos de crises isso é percebido ainda mais.
ResponderExcluirA cidade quer se "desenvolver" passando por cima de uma cultura centenária sem as devidas preocupações, sabemos que todo o crescimento repentino exige uma resposta rápida do poder público não só no planejamento de curto, médio e longo prazo, mas efetivamente em colocar em prática com responsabilidade as ações que devem ser feitas. O que vejo hoje em SJB é um porto (DISJB) a todo vapor e uma prefeitura a passos de tartaruga, a sociedade mal preparada e sem perspectiva de melhorias, ou seja, existe uma festa de "granfinos" na qual o povão só vê o barulho do show. Há uma carência muito grande na cidade, um nível de instrução ainda muito abaixo do ideal, um sistema público totalmente desestruturado. São desafios enormes pela frente e algo tem que ser feito rápido, caso contrário, os Sanjoanenses serão deixados de lado e a cidade será uma mera garçonete dessa festa, onde leva os petiscos, mas só pode beliscar e escondido ainda. Fico triste em ver quanto deixou de ser feito nesses últimos anos, a realidade é outra e diria que esse atual governo não pode-se comparar com nenhum outro, em especial nesses últimos 4 anos que ganhamos muitos recursos e não tivemos um retorno no mesmo volume.
Sds
É verdade Denis. existe um grande descompasso entre as praticas da economia local e o processo de mudanças que ocorre com a construção do porto. Realmente, sentimos falta de uma melhor preparação para o evento. Como sabiamos da viabilidade técnica e econômica da região para a atividade portuária a pelo menos 10 anos, o governo atual deveria ter se comprometido mais com a educação e, fundamentalmente, com as condições de infraestrutura do município. Agora a situação é bem complicada, já que a fase de construção já dura 5 anos e próxima fase de operação, praticamente, só absorverá mão-de-obra qualificada. Temos um garnde problema!
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