Crescimento não é desenvolvimento

O debate democrático onde as visões são contaminadas por interesses corporativistas, geram desinformação e não ajudam a evolução sociocultural do ambiente em referencia. Especificamente, no território compreendido por Campos dos Goytacazes e São João da Barra, podemos identificar inúmeros casos com essa natureza. As notícias sobre o caso do crime eleitoral na eleição passada em São João da Barra, é exemplo típico. Os argumentos dispares sobre o resultado da justiça cria muita confusão, desconfiança e mais confunde que informa.

Em nossa discussão, entretanto, jogamos o foco para o complexo portuário do Açu, onde podemos observar, pelo menos, dois grupos com visões antagônicas em relação a efetiva relevância da presente transformação territorial na vida dos cidadãos. Um grupo foca seus esforços na vertente social e constrói argumentos críticos em relação as ações do empreender e do Estado. Este  ao se aliar ao capital, vira as costas para a população. Nesse caso, o problema das desapropriações e a violência contra trabalhadores imposta pelo Estado, deixam marcas, fundamentalmente, importantes  no fortalecimento de movimentos sociais contrários ao avanço do capital em São João da Barra.

Com uma visão oposta, um outro grupo sai em defesa do complexo portuário do Açu, com o argumento de que o processo é irreversível e contra ataca com a critica de que o problema é a existência de alguns indivíduos que costumam torcer contra qualquer iniciativa de desenvolvimento. Neste caso, a visão predominante é a de que os investimentos vão garantir benefícios a população. Um aspecto importante nesse discurso parece ser o alto interesse coorporativo, já que os mesmos tem relações próximas com o capital.

No intuito de contribuir para um melhor entendimento da questão, trago a visão sobre desenvolvimento do economista indiano Amartya Sen. Segundo ele, desenvolvimento pode ser entendido como um processo de expansão das liberdades reais que as pessoas desfrutam. Este se configura no acesso a saúde, educação, moradia, trabalho, renda, participação nas decisões públicas, etc. Por outro lado, esses elementos não são garantidos automaticamente pelo crescimento econômico, apesar do mesmo ser importante para o processo de desenvolvimento. O crescimento é meio e o processo de expansão da liberdades fim. No caso específico dos investimentos no porto do Açu, apesar da verificação de crescimento das receitas próprias do governo e aumento do emprego formal, outros indicadores apontam para maior privação da liberdade da população, fundamento que deveria ser removido pelo desenvolvimento. É clara a especulação imobiliário, o crescimento dos preços relativos, a fragilidade do comércio local, a ausência de políticas publicas para os setores tradicionais de pesca e agricultura e, fundamentalmente, é evidente a formação de comunidades mais pobres no município sede dos investimentos.


Finalmente, é importante o entendimento de que grandes investimentos exógenos e suas projeções de grandes números, podem não garantir desenvolvimento socioeconômico as populações do entorno, já que a riqueza gerada nessas condições segue o fluxo periferia / centro, deixando um rastro de externalidades negativas por onde passa. Reafirma assim que crescimento não é desenvolvimento. 

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