As contradições da estrutura produtiva de Campos dos Goytacazes















A estrutura produtiva do município de Campos dos Goytacazes apresenta contradições importantes que precisam ser combatidas urgentemente. Olhando pela ótica do trabalho, o município apresentou um estoque de 103.218 empregos formais em 2014, com a seguinte distribuição: 37,42% no setor de serviços; 26,86% no comércio; 14,45% na administração pública; 8,79% da indústria de transformação; 7,66% na construção civil, 2,58% na agropecuária e 0,33% na indústria extrativa mineral. O gráfico a seguir, apresenta a participação relativa setorial do emprego e renda em relação ao total do município.

Uma primeira observação diz respeito ao baixo padrão da renda assalariada, oriunda do trabalho. Observe que a proporção da renda é inferior a proporção do estoque de emprego no setor extrativa mineral, na indústria de transformação, na construção civil e na agropecuária. Somente os setores de serviços e administração pública se diferem. No setor de serviços as proporções se igualam, enquanto na administração pública, a proporção da renda supera em duas vezes a proporção do estoque de emprego. A renda média assalariada alcançou a 3,02 salários mínimos neste ano.

Olhando para o setor de serviços, o mais importante em termos de participação relativa, ou seja, 37,42% no emprego e 37,82% na renda, observamos uma renda média de R$2.219,16 em 2014, portanto próxima da renda média total. O setor de administração pública, apesar da participação inferior do estoque de emprego, apresentou uma renda média assalariada de R$4.466,70 no mesmo ano, ou praticamente o dobro da renda do maior setor em termos de emprego.

Se considerarmos que o setor público não cria riqueza e que o setor de serviços apresenta baixo padrão de conhecimento e, consequentemente, baixo padrão de renda assalariada, temos 51,87% da força de trabalho concentrada nesses dois setores. Complementando a análise e, entendendo que o comércio é uma atividade estéril que, simplesmente, transfere produtos, sem nada modificar, a proporção de trabalho concentrado sobe para 78,73% nos três setores. Ou seja, o município tem quase 80% da força de trabalho concentrada em três setores que não suportam a responsabilidade de geração de riqueza. Por outro lado, os setores que realmente poderiam gerar riqueza, a agropecuário e a indústria de transformação, concentram somente 11,37% do total e detém os menores padrões de renda. A Industria de transformação R$1.574,05 e o setor agropecuário R$1.331,02 no mesmo ano.


No primeiro semestre de 2016, podemos confirmar essas contradições. O município eliminou 1.594 vagas de emprego de janeiro a junho, com participação negativa do comércio, eliminando 1.482 vagas e do setor de serviços, eliminando 1.025 vagas no mesmo período. Contrariamente, o setor agropecuário aliviou um problema que poderia ser maior, já que criou 2.360 vagas no mesmo semestre. Entretanto, tal fato é consequência do início da safra de cana de açúcar que movimenta a única cadeia produtiva do município. Nesse período o campo e a cidade se integram em torno do setor sucro-energético que se dinamiza em função do funcionamento de oficinas, transporte, usina de processamento e outros serviços relacionados. Uma pena que no final do ano toda essa dinâmica se desfaz, o que mostra a insuficiência dos setores de serviço, comércio e administração pública de suportar a necessária dinâmica produtiva do município. Isso nos leva a confirmar a tese de que é preciso acionar a indústria de transformação e planejar outras cadeias produtivas como base da dinâmica produtiva e do desenvolvimento municipal.

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