As aglomerações portuárias cumprem o que prometem?
A propaganda em torno dos benefícios locais, provocados
pela instalação de infraestrutura portuária pelo país é enganosa. Especialmente
em relação ao porto do Açu no município de São João da Barra-RJ, movimento que
acompanhei bem de perto, foi vendida a ideia de desenvolvimento econômico pelo empreendedor
e pelos governantes. O discurso era de que o comércio local se transformaria em
um grande fornecedor de bens e serviços das empresas recém-chegadas, impactando
no aumento do emprego, renda e novos negócios. Esse ciclo virtuoso se
materializaria em desenvolvimento econômico. Evidente que não passou de
discurso.
Para comprovar tal afirmativa selecionamos três
municípios impactados por projetos dessa natureza. São João da Barra-RJ (porto
do Açu), Ipojuca-PE (porto de SUAPE) e Itaguaí (porto de Itaguaí). Usamos a análise estatística de regressão
múltipla, considerando o emprego como variável dependente e as variáveis
emprego total, receitas correntes, investimento público, operações de crédito e
crédito agropecuário como variáveis independentes, em uma série de 12 anos
(2004 a 2015).
Os resultados gerados pelo modelo estatístico mostraram
que em São João da Barra, a cada 1 (um) emprego total gerado, refletia na
redução de -0,02 emprego no comércio. Isso quer dizer que em 100 (cem) empregos
totais criados, 2 (dois) empregos no comércio eram eliminados. A correlação
inversa mostra uma realidade oposta aos discursos, já que a riqueza gerada pelo
investimento acaba fugindo do local que internaliza as externalidades negativas.
A situação de Ipojuca não é diferente, já que a
cada 1 (um) emprego total gerado, o reflexo é de -0,044 emprego no comércio. Ou
seja, para 100 (cem) empregos criados, -4,4 (quatro) empregos no comércio são
eliminados. Os argumentos colocados acima se ajustam também na presente
situação.
Finalmente, em Itaguaí a situação é diferente, pois
ocorre um padrão de correlação positiva e mediana entre as variáveis emprego total e emprego no comércio. Em termos
de previsão podemos afirmar que para cada 1 (um) emprego total criado, ocorre a
criação de 0,016 emprego no comércio, ou seja, 100 (cem) empregos totais
criados geram 1,6 empregos no comércio.
Nesse caso, podemos observar que o município de
Itaguaí apresenta um melhor padrão de absorção das externalidades positivas do investimento,
medida pelo emprego no comércio, do que Ipojuca-PE e São João da Barra-RJ, cuja
correlação é inversa. Entretanto, a capacidade de absorção das externalidades positivas oriunda desses investimentos, por esses municípios, é inexiste ou ainda baixa para capacita-los ao esforço do desenvolvimento endógeno.
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