Porto do Açu, Distrito Industrial, Desenvolvimento! Afinal, qual é a verdadeira situação do município sede?

Sobre a reocupação das terras no entorno do porto do Açu, depois de oito anos do processo de desapropriação coordenado pelo Estado do Rio de Janeiro, a Prumo, gestora do porto do Açu, emitiu a seguinte nota:

“A Prumo em conjunto com o Estado do Rio de Janeiro, contribui para o desenvolvimento do Distrito Industrial de São João da Barra, promovendo a atração de empresas para gerar emprego e renda para a sociedade, bem como acelerando a economia local e o aumento na arrecadação de tributos em toda a região Norte Fluminense. Para que este desenvolvimento econômico aconteça, é importante que as áreas estejam livres de desembaraços para o uso industrial – que é vocação das áreas, de acordo com o Plano Diretor do município e o planejamento de desenvolvimento socioeconômico do Estado do Rio de Janeiro”.

Vejam como os discursos em torno do desenvolvimento para o município são fantasiosos. A figura, a seguir apresenta dados de emprego e renda no comércio e na indústria de transformação no município, para os anos de 2006, 2010 e 2015.

















Fonte: Elaboração própria com base no MTE

Vejamos então a verdadeira situação do município. Em 2006, portanto, antes das obras do porto do Açu, a participação do emprego no comércio era 10,96% em relação ao emprego total. Observe que no auge da construção em 2010, a participação do emprego no comércio caiu para 8,77% e já na fase de operação em 2015 a mesma participação se manteve em 9,04%. No caso da remuneração média nominal do comércio, podemos observar um forte declínio de sua participação. Em 2006 a participação era de 7,29% na renda total, caindo para 4,78% em 2010 e voltando a cair para 3,82% em 2015. Fica evidente que o setor de comércio não absorveu toda a dinâmica da construção e nem do início de operação do porto do Açu, a partir de 2014. Existem fortes indicativos de fuga da riqueza gerada pelos investimentos, em função da combinação do processo de importação de mão-de-obra na construção civil e da exportação de capital, bem de acordo com a relação centro/periferia.

No caso da indústria de transformação, a participação que era de 10,71% do emprego total em 2006, caiu fortemente no pico da construção em 2010 para 5,72%, voltando a crescer para 14,01% em 2015 na fase de operação. Considerando o ingresso de R$10 bilhões de investimento no período de 2007 a 2015 e algo em torno de uma dúzia de grandes empresas no aglomerado, o crescimento de 2015 está longe de representar a realidade esperada. A participação da renda média no setor que era de 16,20% em 2006, antes do porto, caiu fortemente para 4,32% em 2010 e voltou a crescer para 16,47% em 2015, atingindo o patamar de 2006.

Resta então a reflexão: será que trocamos seis por dúzia e arcamos com as externalidades negativas, próprias de investimentos dessa natureza? Ou será que estamos vivenciando uma situação bem pior do que antes da chegada do porto do Açu? 


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