Pensar o futuro sim, porém, integrado ao passado e ao presente

Um movimento de transformação socioeconômico parecido com o que está acontecendo em São João da Barra e entorno, por conta do Complexo Portuário do Açu, ocorre também em Pernambuco mais especificamente, no município de Ipojuca. Numa área de 13,5 mil hectares, foi idealizada, ainda nos anos sessenta, a aglomeração envolvendo porto, fábricas e fornecedores. Entretanto, o projeto só saiu do papel nos anos setenta, tendo o porto de SUAP como protagonista. A partir de 2007 novos investimentos foram dirigidos para a configuração de um complexo industrial, os quais atingiram o valor de R$35,4 bilhões até o momento, assim como uma movimentação em termos de emprego que chama a atenção. No ano passado o complexo gerou 16.413 vagas de emprego, ficando em décimo nono lugar no país. Hoje, o complexo já opera através dos seguintes projetos já concluídos: Bunge (moinho de trigo) no valor de R$117,6 milhões; Arcor (guloseimas) no valor de R$53,7 milhões; Máquinas Piratininga (metal/mecânica) no valor de R$42,02 milhões; Impsa (geradores eólicos) no valor de R$134,4 milhões. Em fase de implantação estão projetos relativos às atividades de refinaria de petróleo, petroquímica, estaleiro, montadora de automóveis, etc.

O fato de essencial relevância é que apesar do longo tempo de planejamento e implementação, o município potencialmente turístico e canavieiro, atrai muitos trabalhadores pelas oportunidades de emprego, mas não consegue resolver os seus problemas estruturais. O município, com uma população de 80.542 habitantes dispõe de saneamento básico para menos de 20% da população e o seu índice de desenvolvimento é de 0,658. Esse indicador é inferior à média brasileira em 0,757. Outro indicador importante como o desempenho escolar até a oitava série (IDEB) foi de 2,6 em 2009 enquanto a média do Brasil alcançou 4,0.

Conforme pode-se observar, a promessa de futuro de riqueza para todos contrasta com um presente caótico de falta de saneamento, educação, moradia e pobreza. A relação com São João da Barra é evidente, já que projetar o futuro sem o compromisso do rigor científico é fácil, sem contar que a memória da população é muito curta. Neste caso, apesar da importância dos protocolos de intenção, o passado e o presente são os fatores que importam em termos de reflexos na vida humana. No caso do complexo portuário do Açu, mesmo considerando a presente fase de construção, o volume de recursos investido desde 2007 é substancial. Aproximadamente R$2,0 bilhões foram consumidos e estão presentes em torno de quinze empresas operando no complexo.

Este quadro nos instiga a buscar respostas para os seguintes questionamentos: quais são os avanços na infra-estrutura física de saneamento básico? Quais são os avanços na educação de base? Quais são os avanços na saúde? Quais os indicadores de melhoria no serviço público? Quais são os indicadores de melhoria na atividade econômica de base? Quais são os indicadores de qualidade na gestão orçamentária? Quais são os avanços no processo de redução da pobreza?

Essa reflexão surge, sobretudo, motivada pela preocupação em relação a uma antiga prática desta região de exaltar o futuro sob uma forma pouco comprometida com a sua real viabilidade. É preciso olhar o futuro sim, entretanto o mesmo tem que estar conectado com o passado e o presente, sob o risco da não contribuição real para o desenvolvimento regional.

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