Agricultura em São João da Barra: dicotomia entre discurso e resultado

Os indicadores sobre a agricultura, atualizados pelo IBGE para 2010, mostram uma atividade em declínio no município de São João da Barra. Conforme a tabela a seguir, dos 4.539 hectares colhidos na atividade de lavoura temporária em 2005, sobrou em 2010 uma área colhida de 3.493 hectares, o que significa dizer, menos 23,04% ou a mesma proporção de ociosidade produtiva nesta categoria agrícola. Deste total, a cana-de-açúcar ocupa 93,04% sobrando uma área equivalente 243 hectares para as outras atividades. O abacaxi, segunda cultura mais importante nesta modalidade, apesar de melhorar a produtividade e se beneficiar da evolução do preço de comercialização, perdeu 40 hectares de área colhida em 2010. A tabela apresenta a relação das culturas e suas respectivas áreas em hectare no período de 2005 a 2010.

O gráfico a seguir apresenta a trajetória do rendimento médio das principais culturas no período estudado. Observe que somente a cultura do abacaxi melhorou a sua produtividade em 2010, entretanto, sem alcançar a sua condição de 2005 e 2006. Aliás, diversos convênios técnicos têm sido amplamente divulgados entre o governo local a UFRRJ e a empresa LLX. O projeto Vila da Terra, recém inaugurado, é fruto dessas iniciativas, o que reforça a tese de que as medidas compensatórias de fortalecimento da agricultura, em função da obras do porto do Açu, precisam ser discutidas com uma maior abrangência técnica.

Outra modalidade, a de cultura permanente, é pouco expressiva em termos de área. Em 2010 a cultura do côco-da-baia representou uma área colhida de 90 hectares e a goiaba representou uma área colhida de 70 hectares. No caso do côco-da-baia, observou-se um aumento de rendimento em torno de 30% em 2010, enquanto que o cultivo da goiaba permaneceu o mesmo. De qualquer forma, o aumento de produtividade do côco-da-baia na cultura permanente e do abacaxi na cultura temporária, não descaracteriza a tese de que a atividade agricultura no município necessita de uma visão mais profissional, ou seja, o poder público precisa planejar melhor a atividade, identificando um modelo mais apropriado de organização produtiva e gestão mercadológica, de forma que a onda industrial não afogue esta atividade tão importante para a geração de emprego e alimento para a população local.

Comentários

  1. Muito boa essa postagem,prof. Alcimar.
    A agricultura ainda é um dos maiores empregadores no Norte Fluminense, mas parece que os governos estão dando pouca importância para esse setor!
    Diminuição da área agrícula, perda de produtividade e baixa rentabilidade significam mais pessoas se deslocando para cidades em busca de sobrevivência.
    Será que um lavrador que plantou cana toda sua vida, terá condições de se capacitar e se transformar em um soldador, por exemplo?

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  2. Boa intervenção. Defendo a visão de que as atividades tradicionais, dentre elas a agricultura, são essenciais para potencializar o desenvolvimento econômico local/regional. Olhe a cana-de-açucar, citada no seu comentário, é estratégica para o mundo moderno, porém e a região que tem um histórico de refêrencia no cultivo não consegue lidar, estratégicamente, com esse recurso tão importante. Insisto que a atividade agricola, organizada com a devida dotação de conhecimento científico e pensada numa outra ótica organizacional, internalizando um contexto de cadeias produtivas, produtos de maior valor agregado e a arquitetura em redes de empresas, pode possibilitar uma conviviencia equilibrada com as novas atividades modernas que estão chegando para a região.

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