CONFLITO DE INTERESSES



O capitalismo, ou a economia de mercado, supõe um crescimento infinito da produção e do consumismo, não considerando os limites físicos do planeta. Trata-se de uma “fábrica de desejos”. O atual momento histórico ao combinar três crises conjuntas, nos campos econômico, social e ambiental coloca em xeque este modelo.
O capitalismo tem sua técnica. As empresas fazem com que as necessidades (desejos) surjam, através da publicidade que molda comportamentos e incentiva as aquisições. Os bancos financiam as compras dos bens e serviços para satisfazer estas necessidades “criadas artificialmente”. E as indústrias produzem objetos cada vez mais obsoletos que aceleram o ciclo de vida e o consumo dos bens descartáveis. Embora a concorrência coloque todos contra todos, há sempre a necessidade de distribuir razoavelmente a renda, de modo a criar um mercado de consumo crescente.
Uma forma de distribuir a renda é através de políticas públicas educacionais, assistenciais e de saúde. Uma espécie de salário indireto para o trabalhador, objetivando uma igualdade de oportunidades e de resultados. Entretanto, o custeio destas ações ocorre através da cobrança de impostos sobre a propriedade, a produção, o consumo e a renda. Enquanto a classe trabalhadora paga os impostos indiretos associados principalmente ao consumo, os ricos lutam politicamente para livra-se da carga tributária sobre a produção e propriedade, bem como das regulações e restrições da legislação trabalhista e ambiental, de modo a tornar seus investimentos mais rentáveis.
Nesta estrutura assimétrica, na base da pirâmide temos algumas situações peculiares. Os pobres, que ainda representam 28 por cento da população brasileira percebem uma renda diária individual em torno de oito reais. Os vulneráveis, cuja remuneração diária não supera vinte reais e a nova classe média tem ganho diário de cerca de cem reais. Períodos de prosperidade e crescimento do emprego formal são altamente benéficos aos trabalhadores e geram lucros crescentes para o setor empresarial. Na crise, entretanto, o conflito distributivo se acirra. A renda fica estagnada, os empregos escasseiam e a regressão social se avoluma desencadeando um desconforto na sociedade, que acaba resultando em mudanças políticas, ou até no pacto de poder.
Um bom exemplo deste quadro está acontecendo em países da Europa. E no Brasil, a geração de empregos, ainda traz dividendos políticos. Mas, até quando?

Ranulfo Vidigal – economista, mestre e doutorando em políticas públicas, estratégias e desenvolvimento pelo Instituto de Economia da UFRJ.
 

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