Gregos driblam crise e criam novas empresas
NIKI KITSANTONIS
DO "NEW YORK TIMES", EM ATENAS
Para
Natalie Kontou, 32, a crise grega levou a algo positivo e inesperado. Após
perder o emprego em uma revista em 2011, ela agora administra uma empresa com
alguns amigos, oferecendo passeios ao crescente número de turistas no país.
Inaugurada
com orçamento de € 5.000 (R$ 15.400) em 2013, a Athens Insiders agora busca
financiamento para se expandir.
Com
o desemprego no nível recorde de 28% -e acima de 60% para os menores de 24
anos-, muitos gregos deixaram de esperar que o governo faça o país caminhar
novamente com as próprias pernas.
Milhares
de empresas naufragaram sob a recessão, agora no sexto ano. Mas o governo diz
que mais de 41 mil novas companhias foram criadas em 2013, em sua maioria
varejistas e em áreas que poucos avaliam como inovadoras.
Mas
a Endeavor Greece, ONG que apoia o empreendedorismo, contabilizou 144 start-ups
com espírito empreendedor -nove vezes mais do que em 2010.
Cerca
de uma dúzia de incubadoras e condomínios de empresas competem entre si para
desenvolver as melhores ideias de negócios, ajudando a arcar com os custos
operacionais e oferecendo orientação profissional.
Uma
das incubadoras, chamada Enter Grow Go, colocou a Athens Insiders sob suas
asas, junto com outras 20 start-ups, e tem o apoio do Eurobank, terceiro maior
banco de financiamento grego.
A
Romantso é o condomínio de empresas mais novo de Atenas. Lá, dezenas de
designers, fotógrafos e artistas da web pagam em torno de € 300 por mês (R$
924) de aluguel por um escritório com estética ousada.
A
renda é complementada com os lucros de um bar no local, patrocínios e
seminários pagos. O criador do condomínio, Vassilis Haralambidis, 37, disse que
seu objetivo é "deter a miséria".
"Nós víamos que as pessoas estavam entorpecidas, que o país estava indo na direção errada, e decidimos fazer alguma coisa."
"Nós víamos que as pessoas estavam entorpecidas, que o país estava indo na direção errada, e decidimos fazer alguma coisa."
As
autoridades gregas também dão apoio ao movimento, assim como ocorre na França e
na Espanha, onde o desemprego entre jovens também é alto.
O
governo reduziu a burocracia que desestimulava os empreendedores no passado.
Uma nova legislação permitirá que se possa criar uma empresa em um dia.
A
volta da Grécia ao mercado financeiro, com uma oferta de títulos de cinco anos,
em 10 de abril, teve uma demanda muito forte dos investidores e o governo viu a
venda como uma prova da recuperação do país.
Neste
ano, cerca de 16 mil pequenas e médias empresas receberão dinheiro de um
programa de apoio da União Europeia, que distribuirá € 1 bilhão (R$ 3,1
bilhões) em subsídios. Outros € 130 milhões (R$ 400 milhões) já foram
distribuídos.
Mas
alguns aspirantes a empreendedores dizem que, em vez de competir por dinheiro
da União Europeia, preferem recorrer a investidores que ofereçam o custeio de
parte do negócio ou a firmas de capital de risco que possam propiciar
experiência junto com investimentos em participações.
Várias
empresas novatas tiveram sucesso, algumas com ajuda de fundos gregos de capital
de risco, que investiram € 20 milhões (R$ 61,6 milhões) em 20 start-ups nos
últimos dois anos, de acordo com a Associação Helênica de Capital de Risco.
O
Taxibeat -um aplicativo de celular que permite às pessoas escolherem táxis com
base na nota dada por passageiros anteriores- foi criado em Atenas, em 2011, e
já foi implantado em França, México, Brasil e Peru.
Depois
de obter € 3,5 milhões (R$ 10,78 milhões) em capital de risco grego, a start-up
obteve no ano passado mais € 3 milhões (R$ 9,24 milhões) da em Hummingbird
Ventures, de Londres.
Os
criadores do Taxibeat dizem que o aplicativo não é lucrativo na Grécia, mas tem
1 milhão de usuários em seus vários mercados.
A
Bugsense, que monitora falhas de software em aplicativos para celulares, foi
adquirida no ano passado pela Splunk, com sede em San Francisco.
Esses
desbravadores servem de inspiração para seus compatriotas inexperientes, como
os da Athens Insiders.
"Sei
que é uma coisa arriscada, mas vamos nos manter nisso", disse Kontou, cuja
empresa planeja roteiros em cinco línguas e está explorando suas opções
financeiras. "Se nós, jovens gregos, não tentarmos criar algo novo, quem
vai fazer isso?"
"Belo exemplo para um país que sofre com fortes desequilíbrios econômicos. O Brasil, apesar da condição bem diferenciada, deveria se espelhar em experiências dessa natureza. Aliás, o nosso estado e, fundamentalmente, a região Norte Fluminense, devem aprender com essa experiência, ao invés de se acomodar frente a riqueza concentrada, oferecida pelo petróleo e suas derivações".
Comentários
Postar um comentário