Sem um diagnóstico socioeconômico real a região não decola!

As expectativas de importantes lideranças sobre a transformação regional, em função dos robustos investimentos privados nos setores de petróleo e infraestrutura portuária, são muito otimistas porque não é comum a análise conjuntural mais aprofundada. Como sabemos, não é tão simples o acesso aos dados econômicos da região, além do desinteresse em muitos casos. Assim, é mais pratico o discurso vazio e sem fundamentos mais apropriados.

A minha critica tem como base as afirmações exageradas com viés de positividade sobre a economia da região. Muitas lideranças, em defesa da prática corporativista, acentuam uma importância de sua entidade ao processo de transformação socioeconômica da região que é desmedida.

Na verdade o quadro é bem diferente, de fato a região é palco de grandes investimentos que se arrastam por décadas. Macaé foi eleita sede da atividade petrolífera já na década de setenta e a chamada Bacia de Campos, hoje produz mais de 80% do petróleo nacional. Em decorrência, os municípios engordaram seus orçamentos, especialmente, os chamados produtores de petróleo.

Mais recentemente, outros investimentos para o pré-sal e em infraestrutura portuária foram dirigidos para a região. Para São João da Barra veio o porto do Açu e para Quissamã/Campos o empreendimento de Barra do Furado. São investimentos robustos que somaram mais de R$5,0 bilhões nos últimos sete anos, somente na construção do porto.

Mais investimentos estão programados para os próximos anos na atividade de petróleo e em portos, o que contribui para os efervescentes debates sobre a transformação regional.

Voltando ao passado, quero contribuir para essa discussão informando que a grande diferença está no ingresso de recursos num patamar muito diferente do que estávamos acostumados. Com isso, o sistema bancário evoluiu em número de agências, depósito a vista privado, operações e crédito, etc., porém não se efetivou o redepósito, o que seria a absorção num maior padrão da riqueza gerada. Para ser mais direto, foi gerada riqueza que não ficou, pelo menos no padrão esperado.

A tese de que crédito gera negócios, emprego e renda, parece não funcionar na região. Em janeiro de 2014 o Ministério do Trabalho registrou um crescimento de 9,65% no número de emprego formal na região e queda de 1,12% no número de estabelecimento, em relação ao mesmo mês de 2012. Vejam que esses números são incompatíveis com o quadro de investimento que estamos falando.


Outros indicadores econômicos como valor adicionado fiscal, salário médio do trabalho, emprego no comércio, arrecadação própria dos municípios, investimento público em Ciência & Tecnologia, somados aos indicadores de cunho social como: educação, saúde, saneamento que também são incompatíveis com o grande fluxo financeiro dirigido para a região. O que mudou na região que possa implicar em uma melhor absorção das externalidades oriundas dos futuros investimentos? 

Comentários

  1. Olá professor,
    Em minha modesta nada mudou, apesar dos municípios da região receberem altos recursos como pagamento pela extração do petróleo na Bacia de Campos. Observo às vezes em suas postagens a análise das atividades econômicas das receitas próprias dos municípios e as advindas do pagamento de royalties, e por estas verifica-se que poucos são os governantes que se preocupam em reduzir seus respectivos municípios de dependência destes recursos pagos pelo governo, em fazer o dever de casa aplicando parte dos mesmos em educação de qualidade (básica e profissionalizante), locomoção urbana, investimentos em saúde pública, saneamento e na melhoria da remuneração aos profissionais inerentes a cada função. Existe sim a preocupação em cumprir as metas estipuladas pelo poder central para não se tornarem inadimplentes e terem seus nomes inscritos como maus administradores nos diversos órgãos federais.
    Quanto ao futuro é necessário que toda a sociedade se una e participe (utopia?) cobrando dos governantes mais transparência na utilização dos recursos municipais, não deixando altas receitas nas mãos de políticos inescrupulosos, planejamento de médio a longo prazos através da elaboração de planos diretores onde se têm etapas e metas a serem cumpridas, educação de base e ensino profissionalizante de qualidade e de acordo com as atividades econômicas destes municípios, incentivo ao uso de novas tecnologias com a finalidade de se formar uma massa de mão de obra mais apta e atualizada com essas tecnologias. Os resultados demorarão a aparecer, mas acho que não existe caminho diferente para se alcançar a um estágio diferente do que se apresenta no momento. Mãos à obra, participação, menos política e principalmente disposição para tomar decisões que vão contra a um sistema cheio de vícios. Talvez dê certo.

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    1. Isso mesmo, a tão falada transparência ( acesso aos dados , organizados de maneira a facilitar ou simplificar a leitura e interpretação ) é uma demanda já antiga da população, e um discurso de candidatos em campanha. Fica infelizmente só nisso, no discurso, na promessa

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    2. Prezado Antonio Santos, muito obrigado pelas pelas suas intervenções e parabéns pela visão precisa. Entendo que a luta é grandiosa para transformar a "utopia" em uma condição real, mas não devemos desistir. Acredito que a solução está na inversão de posição da sociedade, ou seja, de subordinada à organização política partidária para a posição de coordenadora das ações de interesse coletivo. A sociedade é maior do que a organização política e não o contrário, como se observa atualmente.

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    3. Olá Vitor, você tem razão. Acho que a discussão sobre sociedade, instituições e organizações, responde todas essas questões. Insisto que a sociedade é maior, é quem deve dar as "cartas" e indicar os seus representantes numa condição de subordinação. A contradição está na condição de dependência da sociedade em relação as forças políticas. Esta, leva a desvalorização do conhecimento e ao isolamento dos indivíduos que tem informação. Esses são vistos como inimigos pelos governantes.

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