"As aventura do BNDES"
ALEXA SALOMÃO - O ESTADO DE S. PAULO
31 Maio 2015 | 03h 00
Banco financiou obra da
Andrade Gutierrez na República Dominicana usando o dinheiro do fundo que
sustenta benefícios como o seguro-desemprego
"Vejam com o trabalhador brasileiro subsidia a geração de emprego no exterior e o lucro do empresário, através da bondade do BNDES"
Desde
2007, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) reforça o
apoio ao que se chama de “exportações de serviços”, especialmente nos
financiamentos para que grandes empreiteiras brasileiras pudessem fazer obras
no exterior. O ‘Estado’ teve acesso ao primeiro de um desses contratos de
crédito. Segundo avaliação de profissionais do mercado financeiro, nessa
operação o banco só não teve prejuízo porque usou, em condições muito
especiais, o dinheiro barato do Fundo de Amparo ao Trabalhador, o FAT, que
banca benefícios sociais como o seguro-desemprego.
O BNDES nunca divulgou quanto
emprestou para as empreiteiras fazer obras lá fora, nem em que condições ou a
que taxas. O sigilo é questionado e gera polêmica. Por ironia, um contrato se
tornou público ao ser divulgado no site do governo da República Dominicana. O
BNDES se comprometeu a emprestar US$ 249,6 milhões (R$ 786 milhões, pela
cotação atual) para o governo daquele país tocar as obras do Projeto Múltiplo
Monte Grande, que conta com uma barragem para abastecimento de água e
fornecimento de energia. A construtora é a Andrade Gutierrez.
O empréstimo foi fechado em 2013, com
prazo de pagamento de 12 anos, e o BNDES tem quatro anos para fazer o primeiro
repasse. Ainda não fez nenhum. Mas chamou a atenção os juros: o país
estrangeiro vai pagar 2,3%, mais a Libor – uma das taxas mais baixas do
planeta. Em 2013, a Libor mais cara, para 12 anos, foi de 0,8%. Hoje está em
0,75% para este prazo.“Pela
primeira vez sabemos as condições e as taxas aplicadas: temos uma pista de como
podem ser os financiamentos para outras construtoras”, diz o professor do
Insper Sérgio Lazzarini, que estuda o BNDES há 10 anos.
Subsídio. Segundo análises de profissionais do
mercado financeiro, feitas a pedido do Estado, o empréstimo à República
Dominicana tem três detalhes que chamam a atenção. Primeiro: o BNDES deu
subsídio, pois a taxa de juros cobrada foi inferior àquela que a República
Dominicana conseguia no mercado (veja box). Segundo: a taxa concedida ao país
foi bem menor do que a oferecida no próprio Brasil. O financiamento mais barato
dado pelo BNDES aos brasileiros na área de infraestrutura foi para o Programa
de Investimento em Logística (PIL): 7% (2% de spread, mais a Taxa de Juros de
Longo Prazo, a TJLP, que na época estava a 5%. Hoje está em 6%). Terceira
conclusão: se tivesse usado o seu próprio fôlego financeiro e feito o
empréstimo com dinheiro de suas emissões, o BNDES teria prejuízo.
Libor. Procurado, por meio de sua
assessoria de imprensa, o banco declarou que a operação deu retorno porque ele
usou uma fonte barata, o dinheiro do FAT. O BNDES fica com 40% dos recursos do
fundo. Dessa parcela, por lei, 80% devem ser usados no Brasil – e o banco precisa
devolver ao FAT pagando a TJLP. Os demais 20% podem ser usados em operações de
exportação. Nesse caso, o dinheiro é corrigido pela Libor – a taxa
pequenininha. Uma resolução do Conselho Deliberativo do FAT, porém, autoriza o
banco a destinar até metade dos seus recursos vindos do FAT em crédito a
exportações. Se isso for feito, significa que 20% do total do dinheiro do
trabalhador vai render menos de 1% para que o BNDES banque exportações. Em
abril, o banco tinha R$ 202 bilhões do FAT.
O fundo financia várias políticas
públicas e mesmo com arrecadações recordes tem déficit. Nem as recentes
mudanças aprovadas na Câmara, que reduzem o acesso do trabalhador ao
seguro-desemprego e abono salarial, aliviam o rombo. Estima-se que o Tesouro
terá de injetar quase R$2 bilhões no FAT em 2015. No ano passado, um relatório
do Tribunal de Contas da União concluiu que parte do problema está no fato de o
BNDES reter um volume elevado de recursos do fundo e determinou a devolução,
pois a prioridade do FAT é dar assistência ao trabalhador. O banco alega que
precisa do dinheiro para manter os seus programas.
De 2007 a 2014, o BNDES desembolsou
recursos para 425 operações de exportação – pouco mais de 130 delas, o
equivalente a um terço, beneficiaram seis construtoras: Odebrecht e sua
subsidiária em Cuba, a Companhia de Obras e Infraestrutura, Queiroz Galvão,
Camargo Corrêa e OAS. Todas agora são investigadas na Operação Lava Jato, que
apura crimes de corrupção na Petrobrás. O dinheiro bancou rodovias em Angola,
estruturas portuárias em Cuba, hidrelétrica no Equador.
A assessoria de imprensa, em nota,
negou que o BNDES dê subsídio e disse que o crédito a exportações é pago, em
reais, para as empresas no Brasil, com benefícios para o País. Seus números:
entre 2007 e 2013, o banco liberou US$ 54 bilhões para financiamentos à
exportação que mobilizaram uma cadeia de 3.528 fornecedores.
O economista Mansueto Almeida,
especialista em contas pública, vê diferente: “É um absurdo que o BNDES dê
subsídio com sigilo e sem detalhar os ganhos por projeto. Com dinheiro público,
por princípio, deve haver transparência e boa gestão: o que não está claro no
caso do BNDES.”
Banco teria prejuízo se não
usasse o FAT
Pelas
simulações realizadas a pedido do ‘Estado’ por profissionais do mercado financeiro,
o negócio com a República Dominicana é “muito ruim”. Primeiro, porque o
subsídio foi relevante – 13% do valor do empréstimo, sem que seja claro o ganho
para o Brasil. Em 2013, quando assinou com o BNDES, a República Dominicana fez
captação de 10 anos pagando a taxa Libor mais 3,44%, mas o BNDES emprestou pela
Libor mais 2,3%. Se usasse o próprio dinheiro, e não o do FAT, teria prejuízo.
Em 2013, o banco fez uma captação em 10 anos, pagando Libor mais 2,77% – 0,47
ponto porcentual acima da taxa do empréstimo. “É maluquice: o que estão fazendo
lá?”, disse um dos executivos consultados.
Esse maldito PT presta um desserviço à nação brasileira. Péssimos administradores, corruPTos, vivem do passado, são rancorosos e fora de órbita. Acorda Brasil !
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