Jornal Folha de São Paulo
EXPANSÃO NA BASE REDUZ ABISMO MAS
LIMITA ECONOMIA
ÉRICA FRAGA
MARIANA CARNEIRO
INGRID FAGUNDEZ
DE SÃO PAULO
MARIANA CARNEIRO
INGRID FAGUNDEZ
DE SÃO PAULO
10/08/2014 02h00
Dez profissões de pouca qualificação e
salário baixo foram responsáveis por metade dos 9,4 milhões de empregos formais
criados no país entre 2007 e 2013.
O cargo de servente de obras foi o
campeão de vagas geradas: 921 mil, quase 10% do saldo total entre contratações
e demissões no período. Trabalhadores de chão de fábrica, faxineiros, vendedores,
vigilantes e recepcionistas também tiveram os maiores saldos de postos criados.
Na outra ponta, entre as carreiras que
demitiram muito mais do que contrataram, estão supervisores administrativos,
trabalhadores do setor de cana-de-açúcar e operadores de máquinas fixas. As
informações são parte de um levantamento feito pela Folha nas bases de dados do Ministério do Trabalho e revelam um quadro de
intensa mudança estrutural no mercado brasileiro.
O aumento da renda da classe média
alimentou a demanda por serviços e comércio. A expansão salarial e os
incentivos ao setor HABITACIONALtambém
explicam o aquecimento da construção civil. Essas tendências levaram a uma
maior formalização de quem antes trabalhava sem carteira assinada e a um forte
aumento nas contratações por parte desses setores.
Mas a maioria das vagas criadas foi de
baixa qualificação, já que os serviços demandados são pouco sofisticados, a
oferta de mão de obra educada é limitada, e o setor de construção não se modernizou.
"O setor de construção civil no Brasil ainda é muito atrasado. Com pouca
modernização, a demanda por serventes é alta", afirma o economista Anselmo
Luís dos Santos, da Unicamp.
A intensa contratação de mão de obra
pouco qualificada ajuda a explicar a queda do desemprego e da desigualdade.
"Ganho muito mais do que muita gente que passou muito tempo
estudando", diz o pedreiro Valdionor Santos Silva, 27, que completou
apenas o ensino fundamental.
EFICIÊNCIA
O aumento do emprego tão concentrado em
postos de baixa qualificação explica o lento avanço da eficiência da economia
brasileira. E a baixa produtividade limita a capacidade de crescimento.
As empresas adotaram medidas para
melhorar. Um sinal disso foi o forte crescimento nas contratações de
profissionais com perfil técnico. O aumento de especialistas é acompanhado por
um significativo corte dos cargos intermediários de gestão.
Também na busca por mais produtividade,
máquinas têm substituído empregos no campo e nas empresas. Mas a indústria, que
poderia dar impulso à contratação de profissionais mais qualificados, está em
crise –o que afeta a demanda por mão de obra no próprio setor e por serviços
sofisticados que poderiam atendê-lo, como pesquisa e desenvolvimento.
Outro empecilho ao avanço da
produtividade é a falta de mão de obra qualificada nos setores em expansão.
"Um monte de engenheiro júnior virou sênior. Um monte de encarregado virou
mestre. Mestres passaram a ser pagos como nunca. Mas muitos não estavam
preparados, e isso causou problemas", diz Antonio Setin, presidente da
construtora Setin.
As tendências do mercado de trabalho
são tema de uma série de reportagens da Folha a partir deste domingo.
Colaborou MARCELO SOARES
Especial Mercado de Trabalho
"Vejam que a pesquisa para o Brasil confirma a nossa avaliação sobre o emprego na região Norte Fluminense, especialmente, em São João da Barra, sede do porto do Açu. A fase de construção do projeto abre vagas de baixa qualificação, o que pressiona, positivamente, o emprego local. Os salários são baixos e não dinamizam a economia local. O fato é explicado pela transferência de renda feita pelos trabalhadores de outros estados e a pouca margem para consumo da renda disponível dos trabalhadores locais. Como podemos ver, nem tudo é o que parece ser!"
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