Em queda, indústria vira a vilã da renda no Brasil
O total de salários pagos pela indústria no Brasil teve no ano passado a primeira queda desde 2003, e a tendência é um novo recuo neste ano, resultado de reajustes menores e de mais demissões –o que tem reflexos importantes no consumo e na arrecadação de impostos.
A indústria concentra a maior taxa de formalização (75%), o segundo maior contingente de trabalhadores (21,5 milhões) e paga, proporcionalmente, os melhores salários: 25% dos que ganham mais de R$ 4.000 ao mês no país trabalham no setor.
"A indústria será a vilã da renda daqui em diante, algo muito diferente do que ocorreu na recuperação de 2004 a 2008, no governo Lula", diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.
Desde 2003, início da série calculada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o total de salários pagos pela indústria nunca havia caído. A primeira queda, de 0,1% no ano passado, deve se acentuar neste ano (ver quadro acima).
O desemprego no setor deve ser a principal causa da diminuição da renda total, que vinha funcionando nos últimos anos como um dos motores da economia, da concessão de crédito (por causa da alta formalização) e da arrecadação.
O setor responde por 36% da arrecadação de impostos, por causa da sua longa cadeia produtiva e do valor agregado de seus produtos.
EMPREGO
Nos últimos três anos, o emprego industrial caiu cerca de 6%. Só em São Paulo, que concentra 45% das indústrias, foram 220 mil cortes, mais da metade em 2014.
No ano passado, a produção industrial caiu 3,3%, mas grandes empresas seguraram funcionários, mais treinados que na maioria dos setores, esperando uma recuperação.
"O emprego só se mantém se a produção se firmar, e isso não está no horizonte", diz Rogério César de Souza, economista-chefe do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
No primeiro bimestre, a indústria paulista fechou 7.000 vagas. Dos 22 setores acompanhados pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), 15 cortaram, 4 contrataram e 3 mantiveram o quadro.
"A única esperança são os setores exportadores, por causa da alta do dólar. Para os demais, a perspectiva é muito ruim", diz Paulo Francini, diretor da Fiesp.
O setor de máquinas e equipamentos está entre os mais afetados. Com 250 mil empregos, cortou 15 mil vagas em 2014 e deve eliminar outras 30 mil neste ano.
"Teremos uma derrama no emprego. Contando 2015, a queda na produção e no faturamento chegará a 30% em quatro anos. Uma hecatombe", diz Carlos Pastoriza, presidente da Abimaq, que reúne os fabricantes do setor.
Como concordar com o discurso do governo, que continua a forçar a ideia de que os fundamentos econômicos do país são fortes?
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