VAI PASSAR

Os primeiros desdobramentos da ida às ruas dos manifestantes revela, além da ação dos governos municipais e estaduais na redução das tarifas urbanas, um Congresso Nacional que já deu respostas com votações importantes negando a tentativa de implantação da PEC 37 e aprovando a destinação dos royalties para a educação e saúde.

A juventude exige padrão de qualidade “FIFA” para as políticas públicas de educação, saúde e mobilidade urbana, entre outras, o que requer uma agenda planejada, com compromissos, projetos e programas para atacar, de forma consequente, nossos problemas do dia a dia.

Sabemos todos que cada plano tem que estar municiado de um caderno de encargos, constando metas, prazos, avaliações periódicas e controle social para obter resultados palpáveis e concretos. Por outro lado, nossa democracia é jovem (25 anos) e ainda frágil.

Relembrando nossa história, até o início do século XX prevaleceu o voto censitário, onde somente a renda e a propriedade (concentradas) davam o direito a participar do sufrágio universal. A Lei Saraiva acabou com estas regalias, mas manteve de fora dos direitos políticos os analfabetos. O voto feminino só ocorreu no Brasil em 1932. Além do mais, somente depois de uma longa ditadura que vigorou entre 1964 e 1985, através da Constituição Cidadã de 1988 é que o sufrágio universal chegou para todos os cidadãos brasileiros.

É neste contexto, que uma educação pública de qualidade e com conteúdo se faz urgente e necessária, de modo a fazer crescer o grau de formação política de nossa juventude. Uma primeira leitura das pesquisas com os manifestantes, nos revela  a presença de valores liberais e individualistas e certa despolitização negando a importância da disputa política na definição dos destinos de nossa nação. Uma maior educação política de nossos jovens incluiria a exata noção do papel do Estado, partidos políticos, sistema eleitoral, financiamento de campanha e demais fatores na evolução de uma sociedade democrática.

Nos novos tempos, o marketing eleitoral precisa ser substituído pela verdadeira política. Em paralelo, a força do poder econômico precisa estar regulado pela necessária busca do bem comum e as administrações públicas tecnocráticas terão que se aproximar das comunidades, através de uma maior participação popular na definição dos orçamentos e gastos públicos.

A garotada clama por mais direitos civis (liberdades), políticos (participação) e sociais na forma de incremento na distribuição do produto social e seu excedente. Trata-se de um movimento com ideologia de caráter liberal, com liderança difusa e uma estrutura pouco hierarquizada que busca uma sociedade com serviços públicos mais eficientes e renda menos desigual.


Ranulfo Vidigal – mestre e doutorando em políticas públicas estratégias e desenvolvimento pelo Instituto de Economia da UFRJ.

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