Amazônia atrai R$ 130 bilhões, mas enfrenta novos problemas
Renée
Pereira - O Estado de S. Paulo
31 Maio 2014 | 17h 55
Usinas,
portos e minas geram riqueza, mas podem provocar desequilíbrios
A riqueza mineral e o potencial da
bacia hidrográfica fizeram da Amazônia um novo foco de investimentos do Brasil.
Até 2022, o volume de obras anunciadas na região soma mais de R$ 130 bilhões,
entre projetos de mineração, hidrelétricas e terminais portuários. Muito ainda
deve vir pela frente, já que há vários estudos em andamento. O
problema será contornar os impactos ambientais que boa parte dos projetos
trarão para a região.
Os empreendimentos vão ajudar a
turbinar a economia do Norte. Estudo da consultoria Tendências mostra que,
entre 2015 e 2018, os Estados da região vão crescer 3,8% ao ano - acima da
média nacional de 2,9%.
A renda familiar deverá seguir o
mesmo ritmo e subir mais que o resto do País: 3,8%, ante 3,0%.
Consequentemente, a população aumentará 1,35% ao ano no período (no Sul e
Sudeste, a taxa ficará em 0,7%).
Pelas últimas previsões feitas pelo
IBGE, no ano passado, o Norte alcançou 17 milhões de habitantes. Até 2018,
serão 18,2 milhões. Nesse período, a taxa de desemprego terá ligeira queda, dos
atuais 6,6% para 6,4%.
A partir de hoje, o Estado publica
uma série de reportagens sobre o novo ciclo de investimentos na Amazônia, os
reflexos na vida da população local e na comunidade indígena e os impactos nas
áreas de preservação ambiental. Os empreendimentos têm sido motivo de
preocupação entre governantes locais e ambientalistas, que questionam os
benefícios dos projetos bilionários. “O País precisa rever seu olhar sobre a
Amazônia e redesenhar o padrão de ocupação da região. Caso contrário, daqui a
30 anos estaremos discutindo a coexistência entre crescimento e pobreza”,
argumenta o governador do Pará, Simão Jatene (PSDB).
Pelas últimas previsões feitas pelo IBGE, no ano
passado, o Norte alcançou 17 milhões de habitantes. Até 2015, serão 18,2
milhões. Nesse período, a taxa de desemprego terá ligeira queda, dos atuais
6,6% para 6,4%.
Com o esgotamento de potenciais hidrelétricos
e o estrangulamento do sistema portuário das Regiões Sul e Sudeste, a solução
tem sido erguer usinas e portos no Norte. O movimento começou com as usinas do
Rio Madeira e Belo Monte e deve seguir com outros 13 mil megawatts (MW) nos
próximos dez anos.
“Cerca de 60% do potencial
hidrelétrico está na Região Norte, mas sabemos que apenas uma parte será
explorada”, afirma o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE),
Maurício Tolmasquim.
Para permitir o início dos estudos de
São Luiz do Tapajós e Jatobá, as próximas usinas a serem leiloadas, a
presidente Dilma Rousseff criou uma medida provisória e alterou os limites do
Parque Nacional da Amazônia e de uma série de florestas, campos e áreas de
preservação ambiental.
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“Essa é uma das questões mais
delicadas na discussão sobre as hidrelétricas do Tapajós. Não faz sentido ter
critérios para criar uma área de preservação e não ter nenhum para diminuir
essa mesma área”, critica o superintendente de Políticas Públicas do
WWF-Brasil, Jean-François Timmers. Nada garante que em outros casos medida
semelhante seja adotada.
Além das questões ambientais, as
últimas construções têm provocado sérios problemas sociais, como o inchaço
populacional em cidades com infraestrutura precária. Quando um projeto de
bilhões de reais chega a um pequeno município, quase sempre com ausência do
Estado e indicadores precários, ele desestabiliza o pouco de equilíbrio que a
população tem, afirma o governador do Pará. Segundo ele, embora seja o segundo
maior saldo da balança comercial brasileira, grande produtor de energia e de
minério e ter o 4.º ou 5.º maior rebanho de gado, o Pará tem uma renda per
capita de um pouco mais da metade da média nacional.
No caso dos portos, o impacto tende a
ser menor durante as obras. Mas, com o aumento de caminhões nas estradas rumo
aos terminais e a expansão dos comboios nos rios, o cotidiano da população
local muda radicalmente. E a captura de benefícios é ainda mais difícil. Os
terminais são operados por poucas pessoas, já que têm um elevado grau de
automatização.
“Na década de 70, fomos válvula de
escape para a reforma agrária. Agora vamos ser para o esgotamento da logística?
Não queremos ser apenas um corredor de passagem. Queremos que tenha projetos
que agreguem valor aqui”, diz Jatene.
"A discussão apresentada na matéria parece lembar a situação na região Norte Fluminense. Simples assim ........ as atividades inerentes aos grandes projetos não nos pertencem e portanto não nos inserimos em um patamar acima da absorção dos impactos negativos. O resultado final é um grande déficit social no território de influencia".
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