Mudanças permanentes exigem novas praticas
Não
poderia deixar de expressar a minha opinião sobre a reunião realizada hoje no
CDL, sob coordenação da secretaria de desenvolvimento do municípios de Campos
dos Goytacazes. Com o tema proposto para discussão "Cenário Econômico: alternativas para
superar a crise, na verdade não aconteceu um debate e sim uma bela explanação
do secretário de governo e ex governador Antony Garotinho, sobre o projeto de antecipação
dos royalties de petróleo de autoria dos senadores Marcelo Crivella (PR/RJ) e
Rose de Freitas (PMDB/ES), aprovado no senado.
Antony
Garotinho apresentou, com muita clareza, todo o processo evolutivo de
institucionalização das rendas de royalties de petróleo como garantia para
operação financeira. Primeiro na questão da solução da dívida pública do estado
do Rio de Janeiro, ainda quando governador, depois na antecipação de receitas
orçamentárias para os municípios produtores, face a crise internacional que derrubou
o preço do barril de petróleo.
Sobre
os esforços no campo fiscal, o secretario informou que o governou conseguiu
reduzir R$800 milhões, cortando gastos, fundamentalmente de custeio, o que, sem
dúvida, foi um grande feito. Quanto a recuperação das receitas por intermédio
da antecipação dos royalties, o secretario conseguiu mostrar a inexistência de
impactos para os próximos governantes e para as outras esferas de governo que também
não serão afetadas, já que esses recursos serão captados de fundos no exterior.
Segundo o secretário a operação impactará no ingresso de divisas para o país,
além de resolver os problemas fiscais dos municípios em dificuldade.
O
que me chamou a atenção foi o otimismo exagerado de tal engenharia financeira
resolver os problemas desses municípios. Não resolverão, já que existe uma
cultura do desperdício orçamentário que é evidente. Insisto que Campos ainda
tem um diferencial em relação aos outros municípios. Vejo um nível de responsabilidade mais elevado no
esforço para reduzir a dependência orçamentária, em relação as receitas de petróleo,
além do padrão de excelência na alocação em investimento. Os outros municípios
produtores da bacia de Campos apresentam resultados muito inferiores, com exceção
de Rio das Ostras.
Entretanto,
os problemas não se resumem na questão fiscal. Uma outra questão é o baixo
padrão de desenvolvimento econômico da região. Campos como o mais importante município
da região, antes da crise do petróleo, já apresentava uma forte fragilidade em
seu sistema econômico. Em 2013 a parcela correspondente a 80% da renda do
trabalho assalariado estava concentrada nas atividades relacionadas a
administração pública, ao comércio e serviços. Isso é ruim porque os serviços
no municípios são de baixo conhecimento e baixo rendimento, enquanto o comércio
não produz riqueza e sim transfere. Oriundos da atividade industrial, somente
5% da renda do trabalho, o que ratifica a minha preocupação. Neste caso, fica
evidente que a solução permanente está no fomento a atividades produtivas.
É
evidente que o governo não pode ser responsabilizado por tudo, entretanto o
automaticismo keynesiano (o gasto do governo irriga a economia que cresce), pensado
pela prefeita também não existe. A solução para o desenvolvimento econômico sustentável
deve ser pensada no escopo do longo prazo e o governo tem um papel
preponderante nesse processo. É necessário aproveitar a energia despendida em
ações isoladas, que se encerram em si mesmas, para pensar estrategicamente o
processo de geração de riqueza e melhoria de vida da população. Nesse caso,
deve-se construir um cronograma onde possam ocorrer debates sobre temas específicos
e ações coordenadas por um processo de governança institucional. Essa visão tira
o foco da política e desloca para a importância do conhecimento cientifico, da pactuação
de objetivos entre organizações governamentais e não governamentais e da ação
coletiva.
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