Trabalho produtivo e geração de riqueza

Saboreando um excelente doce de cajá, feito pela minha mãe, veio em minha mente uma clara reflexão sobre regiões que criam riqueza e regiões que consomem riqueza criada fora dos seus limites. Em São João da Barra, a matéria prima do doce citado, via de regra geral, costuma ser tratada como lixo, assim como, a acerola, o pero, a carambola, dentre outras frutas. O desconhecimento sobre a importâncias desses recursos no processo de geração de riqueza é a base central da retração do trabalho produtivo e da renda correspondente, com reflexo no aprofundamento da pobreza. Lembro-me muito bem da pequena fábrica de doces no quintal da minha casa, onde uma diversidade de produtos fabricados, como a goiabada, a bananada, o doce de pero, de abacaxi com coco, etc., ganhavam o mercado de Campos e região, cuja renda contribuiu de, sobremaneira, na minha formação acadêmica. Aliás, eu mesmo cheguei a comercializar em torno de duas toneladas de goiabada mês em restaurantes industriais no Rio de janeiro, na década de oitenta. Ai está um exemplo do processo de geração de riqueza, a partir do trabalho produtivo.

Contraditoriamente, enquanto boa parte do território do estado do Rio de Janeiro insiste em ignorar os recursos da terra e seu desdobramento industrial, uma fruta de origem brasileira, porém desconhecida por aqui, faz muito sucesso e gera muitos empregos na Nova Zelândia. Trata-se da Feijoa, conhecida na Serra Gaúcha como goiaba do mato. Neste país a fruta é consumida in natura e serve como matéria prima para geleias e sucos industrializados. A popularidade estampada em outdoors chamou a atenção de pesquisadores que, após analisar as propriedades da mesma, comprovaram a sua eficácia para a saúde.

Outros exemplos dessa natureza podem também ser identificados no Brasil, como as frutas do cerrado e do nordeste que são processadas em sorvetes, sucos e doces em compota, construindo a base endógena da prosperidade em diversos espaços.

Porém, em boa parte do território do Rio de Janeiro está fora de moda falar em atividades tradicionais, já que os milhões de dólares dos setores petrolífero e de infraestrutura portuária acrescentam mais status à uma sociedade que gera extrema desigualdade. Observa-se uma forte dependência da região petrolífera fluminense às atividades econômicas baseadas em recursos naturais, cujos investimentos exógenos demandam habilidades e competências inexistentes no entorno das instalações, condição promotora da exclusão de trabalhadores e empreendedores da mesma região. O resultado disso tudo é que pouco fica da riqueza gerada e, no contra ponto, sobra um processo inflacionário perverso, além da violência, desorganização social e miséria.


Esse contexto nos leva a refletir sobre diversas questões fundamentais, tais como: (i) a indústria de transformação é essencial; (ii) é importante conhecer o potencial de vantagem comparativa; (iii) é fundamental incentivar a ampliação da base de negócios; (iv) a inovação depende da interação universidade-governo-indústria; e (v) a governança territorial viabiliza a competitividade em regiões periféricas.

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