O que o poder público quer com a desapropriaçào de terras no Açu?

As contradições em relação ao processo de desapropriação de terras no Açu, para a construção de um distrito industrial, ainda persistem. Depois das ações atropelativas dos representantes dos governos estadual e municipal, agora a solução está na elaboração de um diagnóstico socioeconômico contratado pela LLX a Universidade do Vale do Rio Doce. Neste caso, alguns pontos são importantes, a saber: primeiro, uma organização privada pode contratar quem ela quiser para elaborar qualquer trabalho, porém este trabalho não tem o poder de descaracterizar o direito de propriedade. Parece-me que as áreas são privadas e não públicas. Uma outra questão é que a LLX, para viabilizar o seu projeto, comprou terras, construiu estradas, doou veículos para órgãos públicos, montou consultório dentário para pescadores, etc. Isso mostra que projetos dessa natureza não dependem da intervenção pública no processo de desapropriação de terras privadas para incentivar a vinda de empresas privadas e muito ricas. Finalmente, o claro desconhecimento desses gestores públicos sobre a natureza da atividade agrícola na região caracteriza-se num grave problema socioeconômico. Assim só resta perguntar “o que o governo realmente quer com esse processo de desapropriação?”

Comentários

  1. É surpreendente que uma empresa possa contratar, por sua conta e risco, um diagnóstico dessa monta. COntratar sim, pode qualquer um fazê-lo, a diferença é que essa decisão não é de cunho privado, mas de interesse público e da coletividade.
    Esse é um claro exemplo do paradigma ou paradoxo (?) entre progresso e desenvolvimento.
    Ao final fica aquela expressão antiga: O QUE O DINHEIRO É CAPAZ DE FAZER, hein?

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  2. Enquanto isso, os pecuaristas e pequenos agricultores da região continuam desesperados com a possibilidade de terem que sair de suas terras em prol do benefício do capital privado. Pessoas simples que só sabem lidar com a terra e vivem dela à gerações. Isso é uma covardia. E o governo municipal ainda diz que vai capacitar os agricultores para servirem de mão de obra para o porto. Que piada! Alguém precisa informá-los que a grande maioria dos agricultores é analfabeta, muitos com mais de 50 anos, e nenhum deles pensa em abandonar suas plantações para serem operários do porto. O progresso será sempre bem vindo desde que não custe a ruína dos habitantes locais. O que será que esse Sr. Eike Batista tem pra conseguir tudo o que quer na região sem o menor problema?

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  3. Angeline, eu não culpo a empresa por toda essa confusão, afinal assim é o capitalismo. A empresa identifica uma oportunidade e busca meios para alavancar resultados. Só que o governo precisa ser forte para inibir conflitos e desequilíbrios. Nesse caso, especificamente, os governos estadual e municipal estão criando toda confusão. As empresas interessadas no projeto portuário não precisam ser estimuladas, já que a infraestrutura principal para possibilitar novos negócios estará diponibilizada. Infelizmente, os nossos governos são frágeis e não desenvolverão o papel que é sua responsabilidade.

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  4. Sandra, você tem toda razão. O problema da desapropriação é muito complexo e reflete aspectos socioculturais. O discurso sobre qualificação é pobre, já que não considera as condições ambientais. O produtor rural quer continuar trabalhando na terra, já que é o ele sabe fazer. A prepotência dos tecnocratas em imaginar que detém todo conhecimento sobre a situação observada é um absudo. Os produtores precisam manter a sua organização inicial e continuar lutando para inibir esse ato coercitivo e, conforme a sua colocação, covarde. Infelizmente, a população do quinto distrito vai se decepcionar com as novidades. Os vereadores que apoiavam o movimento dos produtores, parece que mudaram de lado. Isso confirma a frágil democracia a que me referi na matéria sobre o mesmo assunto dias atrás.

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  5. Alcimar:
    Não estou culpando a empresa, aliás é o papel dela, mas o governo de se omitir. Afinal, esse trabalho já devia estar sendo feito pelo Estado, para verificar o impacto sócio-ambiental.
    QUando digo o que o $ faz... refiro-me a inclusive CEGAR os governos, que deveriam se pautar no INTERESSE PÚBLICO!

    Angeline

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  6. Perfeito. O grande problema é a omissão do governo que tem um papel fundamental na coordenação das ações com vista a um ambiente mais equilibrado, onde os atores possam se beneficiar do crescimento econômico.

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  7. O que preocupa é que o clima na região do 5° distrito está cada vez mais tenso. Os produtores afirmam que só sairão de suas terras mortos. Se essa desapropriação não for revertida teremos um grande conflito naquela região.

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  8. Sandra, realmente existe esta reação. Porém, os produtores precisam ser orientados para um melhor processo de organização do movimento de defesa de seus interesses. O sanjoanense tem dificuldade em pensar coletivamente - eu sou sanjoanense - só sabe pensar individualmente. Isso é um problema. Nesse caso, específicamente, o movimento precisa ganhar visibilidade e, consequentemente, a confiança da sociedade. Para isso, os produtores precisam usar a midia de Campos (radio, televisão e jornais) e colocar o problema como ele é, ou seja, pequenos proprietários que vivem da terra e não tem a mínima condição de mudar de ramo. Essa estratégia pode ganhar corpo e sensibilizar as organizações privadas e a sociedade como um todo. Como SJB é fraco em meios de comunicação e entidades privadas, o movimento tem ampliar suas ações e ir para Campos.

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