MUDANÇA DE PARADIGMA
Análise do economista Ranulfo Vidigal
"Na última semana, nossa região
foi destacada no principal jornal de finanças do país – Valor Econômico,
enfocando a longa agonia da indústria canavieira e seus desafios. Contudo,
temos ainda grupos empresariais que acreditam na região criando novas plantas
industriais em Campos e Quissaman e prometendo investir 800 milhões de reais,
nos próximos quatro anos. Trata-se da associação entre o Fundo BNY Mellon e o
Grupo Canabrava. São empreendimentos que buscam a inovação, como é o caso da geração
do excedente, em relação ao consumo na produção, da energia oriunda do bagaço
de cana. Outro ponto acertado é a aposta no investimento na melhoria da
produtividade agrícola – grande Calcanhar de Aquiles da atividade
sucroalcooleira no Norte Fluminense.
A lei Rosinha e o Fundecam são
parceiros de primeira hora do empreendimento do grupo, localizado em Travessão
de Campos, que emprega direta e indiretamente mais de mil trabalhadores e deve
moer nesta atual safra mais de um milhão de toneladas de cana de açúcar
produzidas fundamentalmente em Campos e São Francisco de Itabapoana.
Antes da Revolução Francesa, os
fisiocratas já apostavam na geração de excedentes, emprego e renda na
agricultura de alta produtividade. Coube ao economista David Ricardo, ainda no
século XVIII, desenvolver a teoria da renda diferencial da terra de maior
rendimento, em detrimento das terras menos produtivas.
Com o etanol em alta, a frota de
veículos flexfuel crescendo e o açúcar com preços remuneradores, a mecanização
da colheita, sem demissão em massa e a justa remuneração do produtor são pontos
positivos para nossa economia em transformação".
Ranulfo Vidigal – economista, mestre e doutorando em
políticas públicas, estratégias e desenvolvimento pelo Instituto de Economia da
UFRJ.
Nosso comentário:
Ranulfo, o desenvolvimento econômico como liberdade, segundo Amartya Sen, é fundamentalmente endógeno, exigindo aspectos relacionados a identificação e planejamento dos recursos locais (tangíveis e intangíveis). Nesse caso, o setor sucroalcooleiro tem muita representatividade e, ao contrário do que muitos pensam, precisa ser potencializado, seja para a produção de açúcar e alcool ou na produção de bens diferenciados de alto valor com base em conhecimento. O setor é, essencialmente, importante porque traz consigo história, saberes, gera emprego e se organiza produtivamente em cadeia, além da fundamental memória tecnológica. Vejo que o problema do setor é de organização produtiva, já que vivemos moderanmente um paradigma de flexiblização produtiva baseada na tecnologia eletro-eletrônica, diferente, portanto, da rígida organização taylorista-fordista. Por outro lado é preciso entender que as condições físicas relacionadas ao setor também mudou, já que as propriedades são menores e os custos de transação são elevados por conta da necessidade de inovação.
Parabéns pela análise.
Professor, sinto que não compartilho este interesse em reviver ou prolongar o cultivo da cana de açúcar. Uma mudança mais interessante a meu ver, seria para uma agricultura mais diversificada, intensiva, como fruticultura irrigada.
ResponderExcluirAmigo Vitor, quando penso na cana-de-açúcar, não vejo, necessariamente, a produção de açúcal e alcool segundo a organização corrente. Vejo a cana como um insumo muito importante, dadas as suas caracteristicas. Neste caso, uma diversidade de produtos com razoável valor agregado pode ser pensada, em um contexto organizacional do tipo rede de empresas e uma coordenação institucional (governo, empresa e universidade). Evidente que este fato não deve substituir a possibilidade de uma agricultura diversificada. A organização citada não exige a necessidade de escala por unidade produtiva e sim a integração no território (cooperação, reciprocidade, governança institucional e rede de empresas).
ResponderExcluiracho interessante rever o paradigma do cultivo da cana com cultivo consorciado com outras culturas, como feijão, sorgo, abobora, amendoim, etc; a cogeração de energia usando tecnologias modernas já implementadas em SP; suprimir a moagem, processo ultrapassado substituindo pela agua morna para extração da sacarose, e sem esquecer da responsabilidade social, criando institutos educacionais, tecnologicos e de fomento ao progresso da sociedade.
ResponderExcluirabraços a todos
sds
Evandro
Muito bom Evandro. Acho que o fundamental é o entendimento do potencial dessa cultura. O resto é criatividade e comprometimento dos agentes econômicos.
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