A SUSTENTABILIDADE É UM MITO?
Uma excelente análise do economista Ranulfo Vidigal
"Na economia ambiental figuram três vertentes
interpretativas, acerca da questão no capitalismo contemporâneo. Para a
corrente mais conservadora, os problemas sociais e ambientais são derivados de
“falhas de mercado”, constituem-se em resultados indesejáveis que tendem a ser
resolvidos pelo próprio funcionamento do sistema, de forma espontânea ou
induzida.
Uma segunda interpretação afirma que o mercado,
somente parcialmente, absorve os custos sociais ou ambientais, e desde que
pressionado pela sociedade, através dos movimentos sociais exercendo pressão
política externa, sobre a economia. Para esta corrente, a sustentabilidade
seria atingível mediante a subjugação da racionalidade econômica à
racionalidade ambiental.
Uma terceira posição importante defende a idéia de
que os custos sociais e ambientais são inerentes ao funcionamento do moderno
sistema produtivo de mercadorias e, assim sendo, não poderá deixar de gerá-los,
sob pena de aprofundar a tendência de queda na taxa de lucro do sistema, com
conseqüências negativas para o processo de acumulação de capital.
Diante da aproximação da data inicial da RIO+20 e do
fortalecimento da temática na agenda da sociedade brasileira cabe uma indagação
preliminar. Que temas serão prioritários? Na visão de um dos mais importantes
intelectuais presentes nas discussões sobre desenvolvimento sustentável nos
últimos quarenta anos – Maurício Strong, uma prioridade é medir
responsabilidades, dado que desde Estocolmo (1972) até os dias atuais, os governos
fizeram grandes promessas e se as mesmas fossem cumpridas não teríamos
problemas tão expressivos de meio ambiente como presenciamos na atualidade. Ou
seja, medir o que foi feito diante do todo que foi prometido nestas últimas
décadas seria uma boa lição de casa.
Maurício Strong nos brindou com a definição de eco
desenvolvimento que pressupõe uma solidariedade sincrônica com os povos atuais,
ao deslocar o enfoque da lógica da produção para a ótica das necessidades
fundamentais da população.
Ignacy Sachs - outro importante estudioso do desenvolvimento
sustentável - definiu as cinco dimensões da sustentabilidade do eco
desenvolvimento: a primeira de dimensão social abrangendo o espectro das
necessidades matériais e não-materiais dos seres humanos; a segunda relacionada
à questão econômica que supões a alocação e gestão eficiente dos recursos; na seqüência
teríamos a sustentabilidade ecológica compreendendo o uso dos recursos
potenciais inerentes aos variados ecossistemas compatíveis e com sua mínima
deterioração; a quarta seria a sustentabilidade espacial de modo a evitar
excessiva concentração geográfica das populações; e finalmente a
sustentabilidade cultural centrada no respeito às especificidades de cada ecossistema,
de cada cultura e de cada local.
Todas estas são questões muito urgentes e muito
importantes para o desenho futuro de nossa região norte fluminense, diante do
acelerado ritmo de investimentos públicos e privados que marcam presença em
nosso território. A sociedade precisa ficar atenta e acompanhar a implantação
dos projetos que trazem externalidades positivas e negativas.
Afinal todo “eldorado” tem um custo social, ambiental
e cultural".
Ranulfo Vidigal – economista, mestre e doutorando em
políticas públicas, estratégias e desenvolvimento pelo Instituto de Economia da
UFRJ.
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