Mudanças no Horizonte


Análise do economista Ranulfo Vidigal

Até o inicio da presente crise financeira iniciada em 2008, predominava a visão liberal do mercado auto-regulável no mundo ocidental.  Em paralelo, fortalecia-se o capitalismo de estado chinês, baseado em acesso aos grandes mercados de matérias primas e consumo de massa, orientado para parcerias publico-privadas e convivendo em um ambiente de uso intenso de inovações incrementais, bem como no barateamento do custo salarial e câmbio competitivo.

A hegemonia americana se fortalece desde 1871, quando o PIB dos Estados Unidos ultrapassou o Reino Unido. Diversos estudiosos nos mostram que o “soft power” do país mais importante do planeta tem como mola propulsora o dólar flexível, o poderio militar, a tecnologia de ponta das grandes empresas e o predomínio cultural do “american way life”.

Nesta conjuntura, um novo desenho institucional e de governança mundial se firma no horizonte, com a estratégia americana se re-industrialização de sua economia lastreada em um custo decrescente do fator energia, bem como na organização da formação de novos blocos comerciais - a leste com continente europeu e a oeste com os países da área do Pacífico, onde se incluem os tigres asiáticos (Japão e Coreia), e países latino-americanos como Chile e Peru.

Neste cenário, a China mais uma vez usará a ciência e a tecnologia para reinventar-se e depender menos da demanda externa na formação da renda, optando por “explorar” de forma mais intensa seu gigante mercado de quase um bilhão e meio de consumidores. Vale ressaltar que, do comportamento da economia chinesa dependem fortemente os países exportadores de matérias primas alimentares, minerais e energéticas. É o caso, especificamente, da África e da América Latina incluindo-se o Brasil. Apenas a titulo de ilustração, é importante destacar que uma tonelada de exportação brasileira para o gigante asiático vale apenas duzentos dólares, enquanto uma tonelada importada pelo nosso país custa dez vezes mais.

Neste contexto, nosso país planeja intensificar o que eu considero um choque de capitalismo neodesenvolvimentista, de aproveitamento intenso de seu mercado de consumo de massas, e de uso inteligente das cadeias produtivas de commodities com mais valor agregado, como forma de voltar a crescer, gerar empregos, elevados salários e financiar as politicas publicas de proteção, inclusão social e redução das desigualdades pessoais e regionais de renda.

O desenvolvimento econômico envolve mudança estrutural e aumento da produtividade dos fatores de produção, via inovação. E assim sendo, apesar da intensa dominância financeira do modelo brasileiro de desenvolvimento é imperativo que a politica econômica busque o controle da inflação (dada a sua influência sobre o poder de compra dos salários), a geração de excedentes exportáveis que mantenham intacta o nível de divisas necessárias para importar bens e tecnologia de ponta, bem como não perder de vista o objetivo da inclusão social, na medida em que ainda somos um dos cinco países mais desiguais do mundo.

Diante de um mundo mais intensivo em tecnologia, torna-se imperativo avançar no nível de escolarização da população brasileira e na formação de tecnologias adequadas à nossa realidade. Por outro lado, o desenvolvimento nas dimensões do território, do meio ambiente, da inclusão social e da questão institucional, exige um poder público matricial, enxuto, planejador e eficiente, bem como uma carga tributária melhor distribuída.

Ranulfo Vidigal – mestre e doutorando em políticas públicas, estratégias e desenvolvimento pelo Instituto de Economia da UFRJ.

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