Riqueza e Prosperidade Sustentável: o dilema regional
A Feira de
Responsabilidade Social Empresarial Bacia de Campos, debateu o tema “Da Riqueza
à Prosperidade Sustentável”, nesta semana em Macaé. Tive a honra de
participar da mesa, juntamente com o professor Silvério de Paiva Freitas
(Reitor da UENF) e Martinho Santa Fé (moderador e organizador do evento). Penso
que, dado a importância do tema, a sua ampliação reflexiva é essencial e
pretendo colocar algumas idéias sobre a questão.
O processo de
geração de riqueza na região Norte Fluminense ocorre, pelo menos há trinta e
cinco anos, com a chegada da Petrobrás em Macaé. Em função da atividade petrolífera, teve
início uma importante aglomeração produtiva que fixou muitas empresas
estrangeiras e nacionais no município, e espraiou externalidades para Campos,
Rio das Ostras e outros. Em complemento aos investimentos produtivos privados e
do Governo Federal, os municípios viram crescer os seus orçamentos por conta
dos royalties e participações especiais, fundamentalmente, os produtores de
petróleo. Estamos falando de uma grande transformação no perfil da região que
se apoiava no setor sucroalcooleiro com sinais de decadência, no setor
agropecuário, pesca e pequenos negócios.
Passadas três
décadas, o próprio Prefeito de Macaé fez uma declaração corajosa e merecedora
de todo respeito, neste mesmo evento, onde alertava a sociedade para os sérios
problemas sociais que estariam a pressionar a pobreza e a miséria de parte expressiva
da população. Neste município gerador de riqueza, realmente é bem acentuada a
pobreza, a violência a ausência de saneamento básico, etc.
Outros movimentos
geradores de riqueza ocorrem na região a partir de 2007, com o inicio das obras
do Porto do Açu em São João
da Barra e, posteriormente, com o inicio das obras portuárias no complexo Barra
do Furado, nos municípios de Campos e Quissamã. Nesta trajetória de importantes
investimentos, temos que refletir sobre a perspectiva dessa riqueza se transformar
em prosperidade sustentável. Esse processo é automático?
Podemos afirmar que
não, até pela trajetória temporal já mostrada. A região Norte Fluminense
apresenta uma economia debilitada, indicando que a riqueza gerada flui para
outras regiões, materializando baixa externalidade positiva localmente.
Observa-se a
ausências de atividades industriais que poderiam permitir uma cadeia produtiva
mais articulada e geradora de trabalho, e em consonância com o padrão de
conhecimento regional. As ocupações oriundas dos projetos portuários, petróleo,
siderurgia, naval, enérgico, etc., não inserem os nossos trabalhadores com
carência de escolaridade e experiência profissional. Neste caso ocorre a
importação de mão de obra com a transferência da riqueza gerada e a
internalização das externalidades negativas. Os indicadores econômicos da
conjuntura atual, tais como: valor adicionado, investimento público, emprego no
comércio, operações bancárias de crédito, preços relativos, renda do trabalho,
etc., confirmam que os investimentos exógenos geradores de riqueza não inserem
as populações locais, ao contrário, geram muitas dificuldades sociais e
ambientais.
Insistimos na saída
via conhecimento, onde poderíamos identificar os recursos tangíveis e
intangíveis que representam vantagens comparativas na região. Esses seriam
planejados e transformados em vantagens competitivas, através de uma
coordenação institucional, onde a universidade, as organizações não
governamentais e o próprio governo, pudessem exercer o seu papel de indução a
prosperidade sustentável nesse ambiente debilitado, apesar da riqueza aparente.
Diria que é uma questão de comprometimento, vontade política e,
fundamentalmente, reconhecer as fragilidades.
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