Citi diz que preço do minério pode cair a US$ 50

Por Francisco Góes | Do Rio - VALOR ECONÔMICO

O mercado está ficando cada vez mais pessimista com os rumos do minério de ferro, commodity dependente da China, o grande consumidor mundial. Ontem a equipe global de commodities do Citi divulgou relatório em que reduziu de US$ 80 para US$ 65 por tonelada as previsões para os preços médios do minério de ferro em 2015 e 2016. O banco previu, inclusive, que, em alguns momentos, o preço poderá cair para a casa dos US$ 50 por tonelada. A projeção, se confirmada, terá efeitos negativos sobre Vale, Rio Tinto e BHP Billiton, as maiores mineradoras mundiais.
Ontem, a ação preferencial da Vale fechou a R$ 19,44, com variação negativa de 3,66%, a terceira maior queda do Ibovespa no dia. Com a divulgação do relatório do Citi, ficou claro que os bancos estão fazendo um movimento mais intenso de revisão das estimativas de preço para o minério de ferro. E as projeções estão convergindo para baixo. O Credit Suisse também já havia indicado um cenário possível de preços do minério abaixo de US$ 70 ou até mesmo de US$ 60 por tonelada. Enquanto isso, a Goldman Sachs perguntou: "É US$ 80 muito alto?", em referência à faixa de preço atual da commodity e ao movimento de baixa do mercado. No mercado à vista da China, o minério está em US$ 75 por tonelada.
Com o cenário mais difícil, o mercado está atento, no Brasil, aos próximos passos da Vale. O Citi indicou que com o preço médio do minério em US$ 65 por tonelada, a mina Carajás, no Pará, continuará rentável, mas o sistema Sudeste, em Minas Gerais, poderá operar no empate. O Citi rebaixou sua recomendação para as ações da Vale, de neutra para venda. E cortou o preço-alvo para os ADRs - papéis negociados em Nova York - de US$ 12,50 para US$ 8.
"A Vale está preparada para ser competitiva e entregar valor mesmo em cenários desafiadores para o preço de minério de ferro", disse o diretor-executivo de Finanças da Vale, Luciano Siani. E acrescentou: "Ao contrário do que afirma o Citi, nossas minas no Sul têm um breakeven [ponto de equilíbrio entre receitas e despesas] bem abaixo de US$ 65 por tonelada. O custo de produção de todas as nossas minas no Norte, Sudeste e Sul é muito próximo, de cerca de US$ 10 por tonelada, apenas na mina e usina."
Mesmo assim, o mercado está apreensivo. A oferta da commodity continuará a crescer em 2015, impulsionada pela Austrália e pelo Brasil - os dois maiores produtores mundiais -, mas a demanda chinesa, o maior consumidor, deve permanecer sem reagir. O Citi afirmou que a demanda chinesa por aço, produto que usa o minério de ferro na sua fabricação, deverá continuar fraca no primeiro trimestre do ano que vem. Pelo lado da oferta, o banco previu crescimento de 140 milhões de toneladas em 2015 no minério de ferro voltado para a exportação, incluindo incrementos de produção pelas australianas Rio Tinto, BHP e Fortescue, e pela Vale e Anglo American (projeto Minas-Rio), no Brasil.
O Credit Suisse também já havia recomendado a venda do papel da Vale em relatório recente no qual Ivano Westin mencionou como possível um cenário de preços para o minério de ferro abaixo de US$ 70 ou até de US$ 60 por tonelada. Contribuem para essa previsão a deflação das commodities, a desvalorização do real e do dólar australiano, as expansões de produção que estão chegando ao mercado e a desaceleração da produção de aço na China. O Credit Suisse trabalha com um cenário base de US$ 85 por tonelada para o minério de ferro em 2015.
Mas esse cenário do Credit Suisse situa-se US$ 11 por tonelada acima dos contratos futuros do minério de ferro para 2015, que ontem estavam em US$ 74 por tonelada. Westin disse que a sua recomendação de venda do papel da Vale se baseia no cenário global e no desaquecimento da China, mas ele reconheceu que a Vale vem trabalhando na direção correta: "A administração da Vale está no caminho certo para entregar as expansões e reduzir custos", disse Westin. A última vez que os preços do minério de ferro estiveram no patamar de US$ 60 por tonelada foi em 2005-2006. Mais recentemente, em 2009, houve momentos em que o preço ficou abaixo de US$ 80, mas foram oscilações pontuais em meio à crise global. A diferença agora é que a indústria de mineração parece viver uma redução de preços mais estrutural.
As atenções do mercado neste momento se voltam para o "Vale Day", em Nova York, na primeira semana de dezembro, quando a Vale vai anunciar suas diretrizes para 2015, incluindo o volume de investimentos que fará em projetos. A grande questão para o mercado é que, frente à queda nos preços do minério, a empresa terá que reduzir os investimentos para não aumentar a dívida e continuar pagando bons dividendos aos acionistas. Há estimativas que apontam para um investimento da Vale em 2015 que poderá variar de US$ 9 bilhões a quase US$ 11 bilhões.
Em 2014, a empresa anunciou US$ 13,8 bilhões, sem incluir gastos com pesquisa e desenvolvimento, mas o número final vai ser menor. O mercado acredita ainda que será difícil para a Vale pagar um dividendo nominal igual ao de 2014, mas a taxa de retorno do dividendo continuará alta.

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