Universidade como prêmio ao abandono do ensino de base
Publicado em 05/11/2014 JORNAL O DIÁRIO
Alcimar das Chagas Ribeiro
Economista, D.Sc.
Economista, D.Sc.
O que está por traz da estratégia de interiorização do ensino superior, com a instalação de unidades universitárias públicas em pequenas cidades? O argumento é possibilitar uma maior democratização do ensino, com um processo acelerado de inclusão. O discurso é atrativo, entretanto a prática é bem outra, já que os critérios técnicos relacionados a questão são ignorados.
Mais se parece com estratégias eleitoreiras e descompromissadas dos reais resultados.
Um primeiro ponto de reflexão é o grau de complexidade relativo ao funcionamento de uma unidade universitária. As exigências sobre a qualificação do quadro de professores, o corpo administrativo, laboratórios, biblioteca, programas de iniciação científica e extensão, costumam criar sérios problemas para grandes universidades, inclusive com o fechamento de unidades pelo Brasil a fora. Universidades importantes, já instaladas na região Norte Fluminense, tais como: UFF, UFRJ e UENF, tem apresentado muitas dificuldades na contratação de professores. A UENF tem vagas em aberto a pelo menos três anos, sem sucesso nos editais lançados. Uma segunda questão diz respeito ao nível potencial de demanda local, já que os indicadores relacionados a qualidade do ensino fundamental e médio, são sofríveis em muitas cidades envolvidas nesse processo de criação de novas unidades de ensino superior. Ainda, as escolas convivem com elevado grau de abandono dos estudantes e a falta de professores em disciplinas essenciais, tais como: física, biologia, matemática, informática e português.
O que é observado em certos municípios ricos, por conta dos royalties de petróleo, é o incentivo ao ingresso dos alunos em cursos superiores nas universidades particulares em Campos dos Goytacazes, sem a preocupação com qualquer tipo de retorno social. Aliás, é conveniente lembrar que o município de São João da Barra tentou viabilizar uma faculdade particular no município, com subsídios das mensalidades e estrutura fica e operacional, não obtendo êxito e abandonando um grupo de alunos, próximo da formatura, a própria sorte.
Bem, acredito que esses argumentos são suficientes para a defesa da ideia de que, dificilmente, uma cidade como São João da Barra, terá capacidade para viabilizar uma universidade, ainda mais que está a 38 Km de um importante centro universitário estadual, a UENF, com excelentes cursos bem avaliados no país e com programas de bolsas capazes de atender a todos os alunos matriculados. Outro ponto importante é a ausência de alunos de São João da Barra nesta universidade. Ao contrário, o número de alunos oriundos da região Noroeste Fluminense é visível e tem uma explicação. A orientação da escola de base na capacitação do aluno para o ingresso na universidade pública e a sua qualidade estampada na avaliação do IDEB. Interessante que uma região muito mais pobres do que a região Norte Fluminense, já que não produz petróleo e não tem porto, apresenta avaliações muito superiores a rica região Norte Fluminense.
Finalmente, vejo que todo esse movimento pode representar uma estratégia perversa que aniquila a qualidade do ensino de base, por falta de investimento, e cria um exército de estudantes universitários, com conhecimento duvidoso, porém com capacidade de votar, segundo os atuais parâmetros democráticos. No fim, o que importa são as estatísticas para a alimentação dos discursos políticos. A história irá confirmar!
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