A INFLUÊNCIA DO CAPITAL RELACIONAL NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

* Alcimar Chagas Ribeiro, economista, D Sc.

Pensar desenvolvimento econômico a partir de um modelo único é negar as diferenças entre países, regiões ou mesmo espaço territorial. A diversidade econômica observada em cada ambiente define as características de cada lugar e a sua capacidade de potencializar uma ou outra atividade econômica. Na verdade, o que se verifica, através das experiências empíricas, é um conjunto de formas de organização produtiva que, quando bem articuladas a um eficaz processo de gestão, possibilitam uma certa condição de bem estar local, identificada na aceleração do produto, do emprego e da renda. Como conseqüência, os padrões de negócios, tecnologia e gestão, seguem a natureza do ambiente econômico em questão, ratificando a visão de que o bem estar e a felicidade de um povo não se configuram somente através de um modelo padrão.
Esta é a premissa que define a importância da ampliação do escopo de entendimento sobre a decadência do setor sucroalcoleiro fluminense. Todo esforço explicativo para o problema tem caminhado sob a ótica da deficiência de elementos fundamentais no contexto da produção, tais como: tratos culturais, irrigação, inovação, capacitação, etc., seguido dos elementos que norteiam o modelo único de organização produtiva: estrutura verticalizada, divisão do trabalho e produção em escala.
A nossa hipótese é que a disponibilização desses elementos não garante o sucesso competitivo do setor, já que em diversos momentos essas limitações foram tratadas, através de projetos governamentais, sem os resultados esperados. Neste caso, entendemos que um conjunto argumentativo mais eficaz para tratar a decadência setorial deve levar em consideração o capital relacional, não considerado nas discussões correntes.
Assim, o setor deve ser entendido como um sistema dinâmico onde organizações se articulam na construção de um sistema produtivo local. Neste caso, a incorporação de elementos imateriais, tais como: confiança, cooperação, reciprocidade e ética, no contexto da análise, ampliam o grau de entendimento sobre os problemas econômicos e, conseqüentemente, permitem, a partir da flexibilização do modelo único de organização produtiva, a construção de estratégias mais adequadas para a evolução do setor.
Pesquisas realizadas pelo Laboratório de Engenharia de Produção da UENF vêm indicando esse caminho. Na verificação do grau de cooperação entre as diversas organizações de interesse no setor, os resultados indicaram uma baixa propensão a cooperar do sistema. O forte interesse individual parece sufocar as iniciativas de ordem coletiva.
Uma outra pesquisa verificou o nível de capital social do Sistema Coagro (conjunto de organizações integradas no negócio da Usina Coagro), confirmando a existência de uma cultura individualista que dificulta o fortalecimento do tecido social local. Entretanto, na análise especifica do Sistema Coagro, construído no contexto da autogestão sob a predominância da cooperação e a reciprocidade, a percepção dos atores muda indicando que esta organização produtiva tem provocado o resgate da confiança entre os interessados, motivando uma maior participação. Este fato é importante e indica que investir em práticas de cooperação é fundamental para o fortalecimento de ações de cooperação, reciprocidade e da ética nas questões econômicas. A nossa visão é que este caminho estratégico permite rediscutir o futuro deste setor de atividade tão importante para a região.

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