Verificação do Postulado Pós-keynesiano de preferência pela liquidez na economia norte fluminense

Pesquisa do professor Alcimar Chagas sobre a movimentação financeira nos municípios da Região Norte Fluminense considerou o comportamento dos depósitos e créditos para medir o grau de preferência pela liquidez do público (PLP) e dos bancos (PLB). A análise se baseou no preceito teóricos pós-keynesiano, o qual considera que padrões indicativos de alta preferência pela liquidez são definidores de dificuldades do sistema econômico local, já que o nível de investimento na atividade real se deprime pela insuficiência de crédito.
Alguns trabalhos publicados têm validado o postulado em análise, especialmente em suas aplicações nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Grandes Regiões do Brasil. No caso específico da Região Norte Fluminense, considerando a natureza especial do município como Macaé, que opera um sistema econômico diferente dos outros municípios, pois existe no local a atividade petrolífera que produz 85% do petróleo do país, os resultados não validaram por completo a teoria.
A pesquisa concluiu que em 2006 o município de Macaé concentrou 47% da riqueza gerada na região e se caracterizou como o município mais importante economicamente, segundo o critério “Valor Adicionado Fiscal”. Inversamente a resposta da teoria, o município apresentou o segundo maior valor de preferência pela liquidez de bancos (0,84) e o segundo maior valor de preferência pela liquidez de público (0,39). Na verdade esta peculiaridade diz respeito a forte movimentação proveniente de atores de fora que preferem investir os seus recursos em outros centros, por não ter confiança suficiente no ambiente econômico local. Apesar da riqueza gerada nestes espaços o acesso ao crédito fica prejudicado, interferindo no dinamismo da economia interna. Observou-se incompatibilidade entre a dinâmica do sistema bancário com o declínio da economia real.
O município de Campos dos Goytacazes, segundo em termos e representatividade econômica, apresentou um quadro diferente. O conceito de confiança está mais visível nos valores de PLP (0,18) e PLB (0,40). Os atores locais parecem ter mais confiança na sua estrutura econômica do que os atores de Macaé.
Neste caso, os indicadores de Campos dos Goytacazes parece compatibilizar com a hipótese conceitual. Uma outra situação que parece não se compatibilizar com a hipótese conceitual diz respeito aos valores apresentados por São Fidélis. O município é um dos mais frágeis, economicamente, na região, mais, contrariamente, apresentou valores baixos de preferência pela liquidez. No caso, PLP (0,22) e PLB (0,25), indicando que o público e os bancos tem confiança no sistema econômico local, o que pode gerar uma melhor condição financeira que é importante para a evolução da atividade real.
Quanto à existência de correlação entre crédito e valor adicionado fiscal, observou-se que quando os municípios de Macaé e Quissamã estão inseridos, a resposta atinge somente 0,7239 na escala de 0 a 1. Quando Macaé e Quissamã são excluídos da análise a resposta de correlação atinge 0,9928. Na avaliação da correlação crédito depósito total, o indicador apresenta perfeita sintonia, alcançando 0,9989. Conclui-se, portanto, que parte da riqueza gerada por Macaé e Quissamã foge, gerando crédito em espaços mais sofisticados e com mais alternativas de lucratividade. Desta forma, parcialmente, se mantém a tese de concentração da riqueza nos espaços centrais e o aprofundamento da desigualdade, reforçado pelo ciclo vicioso que alimenta o empobrecimento dos espaços periféricos.

A seguir são apresentados as equações utilizadas e os quadros indicativos de 1999 e 2006, apurados para a análise. Os dados são do Centro de Informações e dados - CIDE, 2007.

Quanto maior o valor deste índice, maior será a preferência pela liquidez do público, indicando, dentre as opções ofertadas, aquela com maior liquidez.







Quanto maior este índice, menor será o grau de liquidez do passivo bancário, indicando uma maior facilidade para os bancos alocarem seus recursos em ativos de maior prazo de maturidade como operações de crédito.
































Comentários

  1. O caso Quissamã e Macaé não estaria relacionado ao elevado grau de turismo, seja cultural (como é o caso de Quissamãe), seja profissional, considerando os prestadores de serviço à Petrobrás e agregados?

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  2. Angeline, a análise segue na seguinte direção: Macaé e Quissamã aparecem como economias importantes na região, em função da atividade de petróleo. Teoricamente, esses recursos deveriam ter algum reflexo no sistema financeiro local, por exemplo, deveriam gerar redepósitos. Nesse caso, esses redepósitos alimentariam a oferta de recursos para investimentos das empresas em cada cidade e, como conseqüência, aumentaria o nível de emprego e renda. O que acontece é que esses recursos fogem para outros centros fora da região onde as oportunidades de investimentos, especialmente, para os bancos é melhor e mais garantido. Conclui-se que a riqueza gerada em cada município não representa um fator de sustentabilidade para novos investimentos locais.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Após a apresentação desse problema, o que se pode sugerir a nível de reversão dessa falta de sustentabilidade, principalmente, p esses 2 municípios? Arriscaria um palpite?

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