A felicidade no âmbito da organização social
Diferentes máquinas tracionadas, um grupo de pessoas apaixonadas por aventura, tendo o Jipe como ator principal (palavras de um dos participantes), em um ambiente propicio para as manobras radicais. Um arranjo onde se identifica, claramente, elementos indutores da evolução de uma coletividade, tais como: cooperação, reciprocidade, confiança, respeito, sentimento de pertencimento, liberdade, ação coletiva e doação. Podemos identificar nesse arranjo um estoque bastante razoável de capital social, que segundo Robert Putnan, pode ser caracterizado como "traços da vida social - redes, normas e confiança - que facilitam a ação em prol de objetivos comuns".
Realmente, objetivos comuns como o manejo dos tracionados, o lazer em família e a experiência de vida rústica, estão presentes nesse grupo que não mede esforços para superar os obstáculos, que não são poucos. Naturalmente esse não é um exemplo isolado, já que em diversas partes do país grupos com as mesmas características se organizam em torno dessas maravilhosas máquinas.
Entretanto, o exemplo verificado in loco é o Clube do Jipe de São João da Barra, norte do estado do Rio de Janeiro, que comemorou neste fim de semanas dez anos de existência. Um pequeno time de vinte e cinco associados, mais os seus familiares, que conseguiram movimentar em torno de quatrocentas pessoas durante o evento de comemorações de dois dias. A organização recebeu clubes de diversas regiões, como: Muriaé (MG), Campos dos Goytacazes (RJ), Pedra Redonda (MG) e Rio de Janeiro (RJ). Os esforços despendidos para o sucesso do evento foram enormes, já que não existe um espaço preparado para a pratica do esporte.
Nesse caso, os próprios interessados desbravaram uma área pública (com autorização) em total abandono, e foram construindo as bases em mínimas condições para o encontro, usando recursos próprios e ajuda de parceiros sensíveis a causa. Aliás, o que chamou a atenção foi, exatamente, a falta de sensibilidade do poder público que, efetivamente, virou as costas para a iniciativa. Sequer banheiros químicos foram disponibilizados. Homens, mulheres e crianças tinham que buscar alternativas para fazer as suas necessidades. Importante observar que nesta área pública existia um camping com boa infraestrutura que, por abandono do poder público, foi totalmente depredado ao longo do tempo.
É importante assinalar que os gestores públicos deste município tem ignorado a importância sociocultural de equipamentos de lazer para a coletividade. Não entendem que uma coletividade sem esses espaços públicos destinados a família, tende a empurrar os homens para o lazer individual, fundamentalmente, bares e jogos de azar, fato que costumam desorganizar a própria família e fomentar o alcoolismo.
Contrariamente, a opção coletiva de lazer, como a exemplificada no movimento do Jipe clube de São João da Barra, fortalece a família, além de incentivar a busca de conhecimentos associados ao objetivo comum. A participação de crianças e adolescentes aguça o interesse por atividades nobres como a mecânica automotiva, elétrica, designer, pintura, como já acontece de fato nesse grupo. Muitos jipes já foram transformados por participantes desse grupo, que desenvolveram conhecimentos importantes relacionados a essas máquinas tracionadas.
Uma outra questão, entretanto, que muito me instiga, é por que essa mesma pratica exitosa não se repete em outras organizações da sociedade? Por que os comerciantes, industriais e agricultores não conseguem construir capital social em torno de suas organizações? Por que a população não é sensível a mobilização em torno da política de bem estar social? ou seja, da política de saúde, educação, segurança, saneamento básico, assistência social, etc.? Por que a população se permite subordinar às forças políticas, não exercendo sua condição de cidadania?
Essas perguntas tem difíceis respostas, porém o exercício de reflexão sobre elas é muito importante na busca de alternativas de solução. Pensemos nos esforços exitosos em função de objetivos comuns, observados na esfera religiosa e no exemplo da organização de lazer discutido nesse texto. Pode ser um bom exercício sociológico!
Fotos: Netinho Ribeiro
Realmente, objetivos comuns como o manejo dos tracionados, o lazer em família e a experiência de vida rústica, estão presentes nesse grupo que não mede esforços para superar os obstáculos, que não são poucos. Naturalmente esse não é um exemplo isolado, já que em diversas partes do país grupos com as mesmas características se organizam em torno dessas maravilhosas máquinas.
Entretanto, o exemplo verificado in loco é o Clube do Jipe de São João da Barra, norte do estado do Rio de Janeiro, que comemorou neste fim de semanas dez anos de existência. Um pequeno time de vinte e cinco associados, mais os seus familiares, que conseguiram movimentar em torno de quatrocentas pessoas durante o evento de comemorações de dois dias. A organização recebeu clubes de diversas regiões, como: Muriaé (MG), Campos dos Goytacazes (RJ), Pedra Redonda (MG) e Rio de Janeiro (RJ). Os esforços despendidos para o sucesso do evento foram enormes, já que não existe um espaço preparado para a pratica do esporte.
Nesse caso, os próprios interessados desbravaram uma área pública (com autorização) em total abandono, e foram construindo as bases em mínimas condições para o encontro, usando recursos próprios e ajuda de parceiros sensíveis a causa. Aliás, o que chamou a atenção foi, exatamente, a falta de sensibilidade do poder público que, efetivamente, virou as costas para a iniciativa. Sequer banheiros químicos foram disponibilizados. Homens, mulheres e crianças tinham que buscar alternativas para fazer as suas necessidades. Importante observar que nesta área pública existia um camping com boa infraestrutura que, por abandono do poder público, foi totalmente depredado ao longo do tempo.
É importante assinalar que os gestores públicos deste município tem ignorado a importância sociocultural de equipamentos de lazer para a coletividade. Não entendem que uma coletividade sem esses espaços públicos destinados a família, tende a empurrar os homens para o lazer individual, fundamentalmente, bares e jogos de azar, fato que costumam desorganizar a própria família e fomentar o alcoolismo.
Contrariamente, a opção coletiva de lazer, como a exemplificada no movimento do Jipe clube de São João da Barra, fortalece a família, além de incentivar a busca de conhecimentos associados ao objetivo comum. A participação de crianças e adolescentes aguça o interesse por atividades nobres como a mecânica automotiva, elétrica, designer, pintura, como já acontece de fato nesse grupo. Muitos jipes já foram transformados por participantes desse grupo, que desenvolveram conhecimentos importantes relacionados a essas máquinas tracionadas.
Uma outra questão, entretanto, que muito me instiga, é por que essa mesma pratica exitosa não se repete em outras organizações da sociedade? Por que os comerciantes, industriais e agricultores não conseguem construir capital social em torno de suas organizações? Por que a população não é sensível a mobilização em torno da política de bem estar social? ou seja, da política de saúde, educação, segurança, saneamento básico, assistência social, etc.? Por que a população se permite subordinar às forças políticas, não exercendo sua condição de cidadania?
Essas perguntas tem difíceis respostas, porém o exercício de reflexão sobre elas é muito importante na busca de alternativas de solução. Pensemos nos esforços exitosos em função de objetivos comuns, observados na esfera religiosa e no exemplo da organização de lazer discutido nesse texto. Pode ser um bom exercício sociológico!
Fotos: Netinho Ribeiro
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