Os bons tempos se foram


Jornal Estado de São Paulo

Celso Ming
02 Agosto 2015 | 03h 00
Os preços das commodities, medidos pelo índice Commodities Research Bureau (CRB), um dos mais prestigiados do mundo, atingiram esta semana seus níveis mais baixos em seis anos.
Esse medidor é um cestão de preços de matérias-primas que incluem petróleo, ouro, metais não ferrosos, alimentos e produtos químicos. Indica como evolui um dos principais fatores de custo do setor produtivo global. A queda começou em 2011 e, de lá para cá, não parou mais. O índice está agora no patamar em que estava há 13 anos. (Veja o gráfico ao lado.)
As cotações do minério de ferro ficaram muito próximas dos US$ 200 por tonelada em fevereiro de 2011 e hoje oscilam em torno dos US$ 50 por tonelada. Em junho de 2014, o barril de petróleo tipo Brent arranhou os US$ 110; hoje está a pouco mais de US$ 50 por barril. Para desespero dos chilenos, as cotações do cobre atingiram seu ponto mais baixo dos últimos seis anos.
Um a um, os analistas do setor vêm repetindo que o longo e grande ciclo das matérias-primas, que se iniciou em 2002, parece ter se esgotado e dado lugar a uma fase de ressaca de duração incerta.
Como o Brasil é um dos mais importantes produtores mundiais de commodities, esse tombo produz grande impacto sobre a economia. Derruba as vendas de cerca de 50% dos produtos que tomam o rumo do exterior, reduz a renda interna e a arrecadação, desorganiza os investimentos – como se vê mais na área do petróleo e dos minérios – e concorre para o aumento do desemprego.
Não há uma única causa para essa derrubada. A fraquejada da produção mundial em consequência da crise é só uma delas. A virada estrutural da economia da China, antes voltada às exportações e agora atendendo mais ao consumo interno, também tem seu peso. Quando o noticiário aponta para distúrbios da economia chinesa, como nas últimas semanas, os preços das commodities afundam, porque a China é uma das maiores importadoras de commodities do mundo. Só de minério de ferro, é responsável pela importação de 70% do volume global negociado.
Mas o principal fator de baixa é a superprodução. Os cerca de dez anos de boom do setor estimularam os investimentos. Empresas na área de petróleo, de minério de ferro, carvão e não metálicos surgiram em todo o mundo como cogumelos, passaram a empurrar a produção e a acumular estoques. O principal objetivo da Opep, em novembro, ao recusar-se a baixar a oferta de petróleo, foi alijar os novos concorrentes do mercado que operam a custos mais altos.
Não dá para esquecer de mais dois fatores que hoje vêm concorrendo para a baixa. É a relativa valorização do dólar, que exige cada vez menos moeda para pagar o mesmo volume de produto; e a perspectiva de alta dos juros nos Estados Unidos, que tende a valorizar mais o dólar.
Para o Brasil, a atenuante é o setor de alimentos, mas com melhor prognóstico. Como as pessoas têm de comer, o impacto acaba sendo menor. Os preços da soja, por exemplo, caíram 17% em dois anos; os do milho, 22%; e os do açúcar, 36%. Mas o que mais protege o setor do agronegócio aqui é sua alta competitividade, apesar do alto custo Brasil e do jogo contra do governo, especialmente no setor do açúcar e do álcool.

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