Despesas Correntes e Rendas de Petróleo em Campos dos Goytacazes
Insisto na afirmação de que os argumentos favoráveis à recomposição das receitas orçamentárias nos municípios produtores de petróleo, através de captação de recursos no mercado, são frágeis pela contaminação política. A visão predominante é de curtíssimo prazo e a identificação da crise nacional e da queda do preço de petróleo, como responsáveis pelo problema financeiro nesses municípios, não é razoável.
É
real a queda do preço do petróleo, assim como é real a crise econômica no país.
Entretanto, quando se avalia a trajetória das despesas correntes (custeio) e a
trajetória das rendas de petróleo, vemos que os municípios tem uma grande parcela
de culpa pela desorganização financeira atual, já que ampliou a sua estrutura
de custeio sem se preocupar com as consequências. As despesas de capital
(investimento) tem sido subdimensionadas. O índice de correlação entre as
variáveis avaliadas é de 0,972509 (medida de 0 a 1), muito forte, o que
caracteriza uma utilização exagerada das rendas de petróleo em custeio.
A
situação poderia ser outra se os gestores considerassem aspectos simples, porém
fundamentais, tais como: (i) o petróleo é finito e as indenizações diminuem ou
acabam no tempo; (ii) a produção sofre descontinuidade por conta de incidentes
diversos; (iii) a produtividade dos poços maduros é declinante; (iv) existe um
sentimento favorável a redistribuição dos royalties no país; e (v) a economia é
cíclica.
O gráfico acima mostra a trajetória das despesas
correntes (custeio) e das rendas de petróleo em Campos dos Goytacazes. Observem
que a reta do custeio é rigidamente crescente, caindo somente em 2009, quando
as receitas de petróleo caíram 25,64% em relação ao ano anterior. A crise
internacional teve um papel importante. A partir desse ponto, o crescimento das despesas correntes é ainda
mais consistente, enquanto as receitas de petróleo se estabilizam até 2012,
experimentando um declínio a partir dai. Observem que no triênio 2012 a 2014 a
reta das despesas se desloca das rendas de petróleo.
Desta
forma, a presente reflexão mostra que o problema não é tão recente assim, o que
mostra desatenção e dificuldade de planejamento público. O remédio deveria ter
sido o ajustamento das despesas pelo menos há três anos atrás e não o incremento
das mesmas, como comprovado.
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