Funcionários contam como foi a queda e a ressurreição da OGPar, ex-OGX
A
PROMESSA
Rafaella Barbosa veio
em 2008, logo depois da bem-sucedida estreia da OGX na Bolsa de Valores, para
montar a área de recursos humanos –trabalho facilitado pela fama e o caixa
forrado da empresa.
"Uma vez, para
preencher três vagas, recebi mil currículos. Contratei nove."
O clima era
"ótimo", dizem. "As pessoas se sentiam desafiadas", conta
Pedro Sério, analista jurídico.
Na área de exploração e produção, promessas
ambiciosas guiavam a compra de equipamentos. Para o campo de Tubarão Martelo,
veio uma plataforma para produzir 100 mil barris por dia (o campo hoje produz
13% disso).
"A empresa era
conduzida por exploradores [o geólogo Paulo Mendonça presidiu-a entre 2009 e
2012], otimistas por definição. A realidade foi se mostrando diferente",
diz Vicente, gerente de projeto.
A
REVELAÇÃO
A euforia virou
apreensão, com a busca pelo caminho de produzir óleo de forma lucrativa, algo
que se mostrava improvável desde 2011, segundo investigação da CVM (Comissão de
Valores Mobiliários, reguladora do mercado).
De março de 2013,
quando declarou à ANP (Agência Nacional do Petróleo) a viabilidade financeira
dos campos, e julho, quando se desmentiu, a OGX tentou, segundo processo da
CVM, trazer equipamentos que mudassem o cenário. Em vão.
Depois disso, apenas
Tubarão Martelo, que ainda não produzia, indicava ser viável –algo bem
diferente do que prometiam 54 comunicados emitidos pela OGX até 2012 que
apontavam reservas gigantescas e acabaram, por isso, alvo de processo da CVM
contra Eike e sete executivos.
Em setembro, o
dinheiro da empresa estava no fim. Sem um aporte de US$ 1 bilhão que Eike prometeu
mas não fez, ganhou força a ideia da recuperação judicial. A urgência de um
plano que se sustentasse de pé deflagrou a corrida desesperada –e
descapitalizada– para tirar óleo de Tubarão Martelo.
"A entrega do
pedido de recuperação, no fim de outubro, foi um alívio, porque nos deu um
norte", diz Sério.
O
CALVÁRIO
Enquanto isso,
choviam questionamentos da CVM e de acionistas.
Márcia Mainenti,
gerente de relações com investidores, chegou a responder cem e-mails por dia.
"Investidores nos xingavam."
O desânimo se
instalou entre funcionários. "Amigos perguntavam E aí, já quebrou?'. Eu
tentava acalmar a família", diz Barbosa.
Colegas da Petrobras
ofereciam a Vicente ajuda para procurar emprego. "Tranquilizei-os e disse
que ia ficar."
Já Sério era alvo de
curiosidade. "Outros advogados ficavam fascinados com meu relato. Onde
mais se vive uma recuperação judicial?."
Com casamento à
vista, o analista fiscal Bernardo Duarte procurou emprego. Encontrou na
construção civil. "Não podia ficar desempregado."
Rafaella Barbosa se
viu obrigada a conduzir a demissão de cem colegas. "Concentramos em um
dia, para reduzir o trauma. Foi triste, mas todos esperavam aquilo."
Àquela altura, sem
receber, fornecedores deixaram de atender a empresa. Gerente de logística,
Pinheiro teve de procurar outros fornecedores. Conseguiu. "Com o dinheiro
no fim, Márcia me perguntava O que é necessário manter? O que pode
cortar?'"
O
RESSURGIMENTO
Tubarão Martelo
entrou em produção em 5 de dezembro. Mas a receita com a venda do petróleo só
chegaria no fim do mês. "Tive medo de ter de parar a produção por falta de
dinheiro", diz Vicente.
A OGX entregou o
plano de recuperação judicial à Justiça em fevereiro e conseguiu financiamento
de US$ 125 milhões de credores, que se tornariam acionistas. De 50%, Eike
passaria a ter menos de 10%, e minoritários, sairiam de quase metade para 5%.
A OGX virou Ogpar.
Com 60% menos funcionários, mudou-se. Menor, a nova sede tem aluguel 81% mais
barato: R$ 150 mil.
"As baias vazias
deprimiam. Hoje, todos estão perto", diz Pinheiro. "Nunca me
arrependi de ter vindo."
Em fevereiro, Duarte
decidiu voltar. "Sou feliz aqui. E acredito na companhia."
Festinhas mensais de
aniversário, suspensas há mais de um ano, foram retomadas.
Com o lucro da Ogpar
de R$ 516 milhões no primeiro semestre, funcionários voltam a sonhar com
participação nos resultados. "Se não der, vou entender", diz Sério.
Uma vez por mês, o
presidente da empresa, Paulo Narcélio, reúne-se com os funcionários para
relatar a situação da empresa.
Com carreira em telecomunicações
e tecnologia, chegou à empresa em outubro. "Gosto desse desafio."
Em 3 de junho, quando
o plano de recuperação judicial foi aprovado por credores, funcionários se
abraçaram e saíram para comemorar na Lapa, Centro do Rio. "A Ogpar não se
recuperou ainda, mas é viável", diz Pinheiro.
O
FUTURO
A empresa agora busca
recursos para produzir mais em Tubarão Martelo. Tem outra reserva, na Bacia de
Santos, em parceria com a Queiroz Galvão e a Barra Energia.
Deve produzir óleo em
2016. Dos 50 mil barris totais por dia que, um dia, previu produzir, hoje
extrai 15 mil.
"Quem ficou é
resiliente e movido pelo desafio da virada", disse Vanderli Frare,
coordenadora do CBA em gestão de pessoas do Ibmec-DF. "A empresa precisará
manter o diálogo e a transparência, pois não terá outra chance."
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OGPAR/2014 (1º SEM)
RECEITA
LÍQUIDA R$ 514 milhões
EBITDA R$ 108 milhões
NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS 140
PRINCIPAIS ATIVOS 3 Campos de Petróleo: Tubarão Martelo, Tubarão Azul e BS-4 (40%)
PRINCIPAIS CONCORRENTES Petrobras, HRT, Barra Energia, Queiroz Galvão
EBITDA R$ 108 milhões
NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS 140
PRINCIPAIS ATIVOS 3 Campos de Petróleo: Tubarão Martelo, Tubarão Azul e BS-4 (40%)
PRINCIPAIS CONCORRENTES Petrobras, HRT, Barra Energia, Queiroz Galvão
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