Um retrato da conjuntura econômica de São João da Barra
Nas diferentes discussões
sobre os impactos do Porto do Açu, em São João da Barra, atores como o governo,
o empreendedor e o órgão ambiental que autorizou todos os projeto solicitados,
saem em defesa do empreendimento argumentando "DESENVOLVIMENTO". Realmente
fico muito incomodado com a utilização indiscriminada desse termo e resolvi
cruzar alguns indicadores, de forma a auxiliar um melhor entendimento sobre a
movimentação econômica no município e seus reais reflexos para a população.
De inicio é importante
lembrar que foram gastos em torno de R$5,8 bilhões na construção do
empreendimento e R$2,0 bilhões na execução orçamentária pelo setor público no
período de 2007 a primeira metade de 2014. Uma primeira pergunta é sobre os
reais benefícios dessa movimentação para a sociedade.
No campo do emprego, o
volume aumentou, porém os benefícios não apareceram. Veja no gráfico que a participação do emprego
na indústria de transformação é declinante até 2011. Nos anos de 2012 e 2013
esboça recuperação, porém se situa muito abaixo dos anos inicias. Isso é um
problema, já que a atividade industrial é fundamental para a garantia de
sustentabilidade econômica local. A participação do emprego no comércio é
declinante até 2012, esboçando recuperação em 2013, porém com uma taxa muito inferior
aos anos anteriores. Em contradição aos discursos otimistas, o comércio local
sofre e não gera um padrão de emprego compatível com a movimentação financeira
indicada. Muitos empregos tem características sazonais e são ocupados por
indivíduos de outras regiões, os quais transferem parte substancial da renda
para sua origem.
No campo orçamentário, a
gestão pública é um desastre. O gráfico apresenta a taxa de investimento
público no município. Veja que os dois picos ocorrem em ano eleitoral. Em 2008
quando foi alcançada a taxa de investimento de 14,7% sobre as receitas
correntes e em 2012, quando foi alcançada uma taxa de 9,4%. A taxa média de
investimento alcançou 6,6% no período de 2005 a 2013, o que é inexpressiva para
um município sede de uma estrutura portuária de tal importância para o país.
Mais dois indicadores
confirmam a nossa tese sobre a baixa capacidade dos gastos públicos e privados,
movimentados no período de construção do porto do Açu, de gerarem benefícios
compatíveis para a sociedade local. A evolução anual do valor adicionado fiscal
(movimentação no comércio, indústria e serviços) em termos reais é negativa em
-0,97% em 2011 e -4,4% em 2012. A atividade agrícola temporária declinou de
4.539 hectares colhidos em 2005 para 2.934 hectares em 2012, enquanto a atividade
permanente manteve o seu ritmo nos 170 hectares colhidos no mesmo período.
Conforme podemos observar,
existe total incompatibilidade entre os gastos públicos e privados no período,
com os indicadores apresentados sobre a dinâmica da economia local. levando em
consideração as mudanças socioambientais, é incontestável a situação de risco
por que passa o município e sua população.
Boa análise. Está virando prática no país. Parcerias mal aproveitadas e dinheiro público jogado fora.
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