Uma contribuição ao debate econômico regional
O debate envolvendo a economia da região
Norte Fluminense parece chegar a algumas conclusões de consenso que são
incompletas. Pude verificar tal fato durante a sessão do Parlamento Regional,
nesta segunda feira, na Câmara Municipal de Campos dos Goytacazes. Explorando o
tema "qualificação da mão de obra", representantes de importantes
instituições apresentaram uma visão onde a dinâmica econômica regional é
dependente dos investimentos exógenos (de fora para dentro). Com isso,
ratifica-se a tendência do modelo único
e não se observa as marcantes diferenças comuns aos ambientes.
O discurso é conhecido, ou seja, a região
Norte Fluminense vem recebendo investimentos privados importantes,
fundamentalmente, nas áreas de petróleo e infraestrutura portuária. As vagas de
emprego ofertadas exigem habilidades específicas que não constam do
"cardápio" regional, já que as atividades predominantes são de outra
natureza. Neste caso, a corrida é no sentido de capacitar a mão de obra para as
novas ocupações que chegam. O foco único passa a ser esta nova realidade.
Passamos a observar então o discurso do que cada instituição é capaz de
realizar nesse novo contexto, ou seja, atividades relacionadas a máquinas
sofisticadas, pintura industrial, guindastes, e outras no campo da
construção civil pesada.
O sentimento comum é de que a empresa não
pode esperar e de que existe uma substancial demanda por trabalhadores não
atendida que poderá culminar num "apagão da mão de obra". Ainda,
algumas declarações de que a região sequer atende a demanda por ocupações menos
qualificadas e que na verdade pode estar ocorrendo uma certa acomodação da
população.
Quero chamar a atenção para o fato de que os
investimentos exógenos são importantes, entretanto não existe a possibilidade
de adequação automática, nem de médio prazo, da população ao processo de
mudanças. A incapacidade de adaptação de boa parte dos trabalhadores é um
problema estrutural. A educação de base é fraca e a sua transformação exige
muito tempo, além de comprometimento político.
Não quero dizer com isso que devemos
abandonar essa oportunidade, ao contrário, a região precisa buscar mecanismos
de capacitação não só para a mão de obra, mas para as praticas na esfera
política, no processo de gestão pública e privada e no comportamento ético do
individuo.
Adicionalmente aos investimentos exógenos, é
importante planejar o fomento de investimentos endógenos (de dentro para fora).
A experiência tem mostrado que os robustos investimentos em petróleo não ajudaram
a fomentar, numa proporção adequada, investimentos endógenos. Quando olhamos
para os indicadores econômicos importantes na região, concluímos facilmente
essa afirmativa. Aliás, com toda a pressão de demanda das empresa por
trabalhadores, segundo algumas afirmações, a região destruiu 154 empregos no
primeiro bimestre deste ano e o setor de comércio foi o que mais contribuiu. A riqueza
gerada em Macaé não dinamiza o emprego no comércio local, enquanto o emprego em
Campos ainda é muito dependente das atividades sazonais da cana-de-açúcar e dos
programas de construção de casa populares do governo local.
Enfim, quero dizer que é possível alcançar
uma certa dinâmica econômica com atividades tradicionais. Naturalmente, essas
atividades precisam absorver conhecimento não tão distante, culturalmente, dos
trabalhadores da região. Nesta estratégia a escala de produção é territorial,
ou seja, no contexto da segunda divisão do trabalho, onde as organizações e
instituições tem um papel fundamental no fomento a ação coletiva. Assim, a
competitividade do sistema econômico é função das vantagens comparativas locais
e de um processo de governança institucional que deve ser construído. É preciso
articular os dois modelos e não focar cegamente em um único modelo que é tão
distante culturalmente da região.
Comentários
Postar um comentário